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14/12/2005 - 08:16:20

Retrô 2005

Carlos Silva

O ano de 2005 deveria ter começado com expectativa e otimismo. Afinal, o Santo André preparava-se para sua estréia internacional na Copa Libertadores, o mais importante campeonato continental. Mas dois fatos ocorridos ainda no final do ano anterior deixaram a torcida com a pulga atrás da orelha: primeiro, a desistência de Hélio dos Anjos, que contratado para montar o time que disputaria o Paulistão e a Libertadores, simplesmente demitiu-se após poucos dias de trabalho, dando declarações enigmáticas sobre as causas de sua saída; e, logo em seguida, um duro golpe na auto-estima da torcida ramalhina: a contratação de Luiz Carlos Ferreira como novo técnico. A chegada do treinador, experiente mas sem o perfil esperado para a temporada que seria a mais importante da história do Ramalhão, foi recebida por boa parte da torcida como verdadeira ofensa, diante das circunstâncias da saída de LCF em sua última passagem pelo clube.

Em 11 de janeiro, entrava definitivamente no ar o sítio Ramalhonautas, enquanto o time sub-21 sucumbia nas oitavas-de-final da Copinha, diante do Grêmio. Campanha insatisfatória, mas que revelou pelo menos um atleta de qualidade para o time principal: o zagueiro Diego Padilha.

Começou o Paulistão e o time, já com alguns jogadores experientes como Romerito, Dedimar e Sandro Gaúcho mesclado com jovens como Diego, Leandrinho, Richarlyson e Rafinha, até que teve um bom começo, mas a irregularidade não permitia ao time adquirir a confiança necessária. Resultados inesperados em casa, como permitir a virada do União de Araras após estar vencendo por 2 x 0, colocavam em dúvida a real capacidade da equipe e, principalmente, de seu treinador. Antes da estréia na Libertadores, ainda chegariam os jogadores Fernando e Rodrigão.

Chegou, enfim, o aguardado 2 de março, dia da primeira partida oficial do Ramalhão fora do país. A derrota para o Deportivo Táchira por 1 x 0 acabou debitada à inexperiência do elenco e ao nervosismo da estréia. Mas esse mau resultado acabaria comprometendo toda a campanha do clube na Libertadores. Logo em seguida, o empate em casa com o Cerro Porteño por 2 x 2 deixava o Ramalhão na lanterna do grupo.

O clima já não era bom e a situação do técnico LCF tornava-se insustentável. Por fim, a derrota no Bruno Daniel, pelo Paulistão, para o MSI/Corinthians de Carlitos Tevez e a infeliz declaração do treinador de que “perder para time grande é normal” puseram fim à desastrosa sétima passagem de LCF pelo clube ramalhino. Em seu lugar, foi efetivado o auxiliar técnico Sérgio Soares, que contava com o apoio da torcida.

E, de fato, com Soares no comando o time melhorou seu desempenho. Reação na Libertadores, com o empate contra o Palmeiras no Parque Antártica e vitória sobre o mesmo adversário no Bruno Daniel, mas a amarga derrota em Assunción para o Cerro deixava o time na dependência de outros resultados. No final, de nada valeu o massacre de 6 x 0 contra o Táchira, pois o previsível empate entre Palmeiras e Cerro classificou a ambos. O Ramalhão despedia-se da Libertadores sem ter passado da primeira fase, um resultado bem aquém do que a torcida ramalhina esperava.

Em compensação, no Campeonato Paulista o time encerrava sua campanha em 4° lugar, garantindo classificação para a Copa do Brasil 2006. E, o mais importante: à frente do São Caetano. Enfim, uma alegria para a torcida. Com isso, o time estreou embalado no Brasileiro da Série B, com vitórias sobre CRB, Marília e Sport, disparando na liderança.

Mas era uma campanha meio irreal, pois o elenco ainda era o da Libertadores. E o inevitável desmanche começou: Leandrinho, Romerito, Fernando e outros deixaram o Ramalhão em busca de maiores salários. Os reforços começaram a chegar, porém de qualidade diversa, para dizer o mínimo, em relação aos atletas substituídos. A produção do time caiu um pouco, mas nada que, naquele momento, prejudicasse a campanha.

Mas não seria o Santo André, se não acontecesse logo algo catastrófico.

E uma bomba de efeito devastador atingiu o time no final de maio: o meia Richarlyson abandonou o elenco e, orientado por seus “empresários”, ingressou na Justiça Trabalhista contra o clube, requerendo a rescisão de seu contrato e o recebimento da multa contratual, sob a alegação que o clube não depositara um mês do FGTS. Após obter na Justiça uma liminar, o atleta colocou-se em leilão na mídia: chegou a posar com a camisa do Palmeiras, mas acabou acertando com o São Paulo.

O fato provocou um abatimento perceptível do elenco ramalhino e deixou a torcida enfurecida, a ponto da TUDA promover o “enterro” do atleta em um caixão cor-de-rosa de gosto duvidoso. O protesto aparentemente não foi bem recebido por uma parte do elenco. Mas, bem maior que a raiva da torcida, foi a decepção com o jogador, que era um de seus ídolos e tinha toda uma história dentro do Santo André (foi um dos campeões da Copinha de 2003), que havia sido simplesmente jogada no lixo.

O departamento jurídico do clube agiu depressa e conseguiu derrubar a liminar nas instâncias superiores, e o jogador acabou perdendo a ação por faltar à audiência no Fórum Trabalhista, mas o mal já estava feito. No final, um acordo entre os clubes permitiu a liberação de Richarlyson para o São Paulo.

Enquanto isso, em campo o time não conseguia mais se encontrar. Os reforços não mostravam desempenho que justificasse sua vinda, e a falta de entrosamento prejudicava claramente a equipe. O torcedor, desconfiado, tornou-se menos assíduo e a média de público nas partidas no Bruno Daniel estacionou em irrisórios 1.200 pagantes. Com isso o Ramalhão, que iniciara a Série B de forma arrasadora, terminou a fase de classificação apenas na 5ª colocação, caindo no grupo teoricamente mais difícil da segunda fase. É verdade que em nenhum momento o time deixou a zona de classificação, o chamado G-8, mas o baixo rendimento da equipe nas 6 últimas rodadas da primeira fase não animou o torcedor. Numa tentativa de atrair mais público, a diretoria do ECSA buscou parcerias por meio de venda de pacotes de ingressos para empresas, conseguindo sucesso parcial.

A segunda fase da Série B acabou sendo uma repetição do filme que o torcedor ramalhino já havia assistido na Libertadores, com uma diferença: a derrota inicial desta vez aconteceu em casa, diante do Grêmio. Logo em seguida, a derrota acachapante para o Santa Cruz em Recife minou o pouco de confiança que restava ao torcedor. Duas vitórias sobre o Avaí trouxeram novo alento ao time, mas o empate em casa com o Santa foi a pá de cal nas esperanças ramalhinas, e nem a vitória sobre o Grêmio no Olímpico mudou a situação. Apesar disso, o Ramalhão terminou a fase com 10 pontos em 18 possíveis. Esse aproveitamento (55,55%) poderia ter sido suficiente para a classificação, não fosse um detalhe: a participação medíocre do Avaí, que não conseguiu tirar um ponto sequer dos outros times, e portanto não influiu na classificação final do grupo. Se desconsiderados os 6 pontos que cada equipe conquistou sobre os catarinenses, a classificação efetiva do grupo foi: Santa Cruz, 7 pontos; Grêmio, 6; e Santo André, 4. Desclassificação e férias antecipadas para os jogadores, e tristeza para a torcida que viu, novamente, o ano acabar mais cedo.

Mas um pequeno consolo ainda viria, graças ao time sub-21, que, mesmo desacreditado pela campanha fraca no Campeonato Paulista da categoria, conseguiu o bicampeonato dos Jogos Abertos do Interior. E, ao final, o treinador Sérgio Soares também deixou o Santo André, para juntar-se ao projeto futebolístico do Grupo Pão de Açúcar.

E o que podemos esperar para 2006? Como já vimos este ano, muito do que vai acontecer na próxima temporada dependerá de decisões que serão tomadas ainda em 2005. Mas tenho uma visão pessoal que, talvez, não corresponda ao que a maioria dos ramalhinos espera: acho que 2006 vai ser um ano de entressafra, como 2003.

Está bem claro (ao menos para mim) que o Santo André não tem como manter um elenco no mesmo nível competitivo durante uma temporada inteira, até por imposições do mercado, em que os atletas celebram contratos de curta duração, válidos apenas por um campeonato ou nem isso; a cada torneio encerrado, um desmanche acontece, e nem sempre os substitutos conseguem manter o mesmo nível. Em 2003, o time atingiu seu rendimento máximo no final da temporada; em 2004, no meio (embora o time do 2° semestre também fosse bom). Este ano, o auge da equipe foi atingido muito cedo, em abril, e depois disso houve o desmanche e uma queda paulatina de rendimento.

Penso que em 2006 devemos centrar esforços no segundo semestre, na Série B, pois conseguir o acesso torna-se cada vez mais prioritário. Assim, o time deverá iniciar a temporada com um elenco formado principalmente por atletas das categorias de base, e três ou quatro titulares mais experientes; e entre estes possivelmente não estarão alguns dos jogadores que atuaram no Ramalhão nos últimos 2 anos, como Sandro Gaúcho, Júlio César e Dedimar, cujo ciclo com a camisa ramalhina parece estar chegando ao fim.

Como esse time irá demorar um pouco para atingir sua melhor forma, não devemos esperar por boas campanhas no Paulistão (lutaremos para ficar no meio do bolo) e na Copa do Brasil. Essa é a única maneira de minimizar os efeitos de um possível desmanche no final do Paulistão e entrar na Segundona com uma equipe entrosada .

Espero que as decisões certas sejam tomadas agora, para termos o que comemorar em 2006.







 

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