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09/10/2006 - 17:10:49

Clube empresa não é panacéia

Carlos Silva

A publicação mensal Livre Mercado de agosto trouxe uma matéria de capa que surpreendeu a muitos: o E. C. Santo André, na pessoa de seu presidente Jairo Livólis, anunciava o desmembramento da gestão do futebol profissional do clube para uma empresa a ser criada para esse fim. A matéria de 6 páginas do jornalista Daniel Lima foca a viabilidade do empreendimento e considera a medida como um grande passo necessário para o crescimento do time, pois o modelo atual já estaria esgotado.

Para quem não teve a oportunidade de ler a matéria, destaco abaixo alguns de seus trechos mais significativos:

" `Ou caminhamos definitivamente para o clube-empresa, ou teremos cada vez mais dificuldades para superar obstáculos.' " (frase de Jairo Livólis)

"(...) O Santo André (...) tem o que interessa aos investidores. A titularidade na série A (sic) do Campeonato Paulista e uma das 20 vagas na Série B do Campeonato Brasileiro são vitrines concorridíssimas."

"O ideal seria (o clube) combinar representatividade popular e regularidade de desempenho."

"O certo é que não se pretende capilarizar a participação de investidores. Primeiro porque poderia criar dificuldades ao rápido preenchimento de vagas. Segundo porque poderia tornar mais complexa a gestão da sociedade esportiva."

"O temor de esgarçar-se a tradição do clube numa eventual composição dominada por voracidade financista existe, mas se dissipará na exata proporção em que torcedores, conselheiros e dirigentes mais tradicionais participarem como acionistas."

"O Esporte Clube Santo André provavelmente não suportará a avalanche do negócio chamado futebol se não se tornar Santo André Sociedade Limitada. Resta saber que tipo de sociedade esportiva advirá do que será apresentado em 10 de agosto. Acionistas com mentalidade de conselheiros deliberativos serão péssima variante. Acionistas com sede de empreendedorismo serão grande tacada."

Isso é o que nos basta, por ora, para comentar o assunto.

Apesar do otimismo imanente em toda a matéria, entendo que a consolidação do clube-empresa (que doravante, por economia, chamarei apenas de CE) não será tarefa tão simples. Já estamos escolados no assunto. Quando o Ramalhão venceu a Copa do Brasil, o torcedor logo imaginou que duas grandes filas iriam formar-se na entrada do Poliesportivo: uma, de grandes empresas interessadas em patrocinar a equipe na Libertadores, e outra de jogadores dispostos a vestir a camisa do Ramalhão no prestigioso torneio sul-americano. Nem uma coisa nem outra aconteceu. A Libertadores não se mostrou vitrine suficiente a atrair investidores e atletas, e não houve o tão esperado salto qualitativo que seria conseqüência inevitável da capitalização do título da Copa do Brasil. Passados mais de 2 anos, o Santo André continua exatamente na mesma condição de antes. Logo, não temos razão para concordar com o Daniel Lima quando este afirma que a participação do Ramalhão na Série B poderia atrair investidores (nem se fale então do esvaziado Paulistão, que perdeu praticamente toda a importância, reduzido a um pouco expressivo torneio de verão).

Também não temos nenhuma informação até o momento quanto à repercussão do projeto de CE junto aos possíveis interessados. O assunto está cercado do mais rigoroso sigilo, de forma que não se tem idéia até agora de quantos e quem são os prováveis sócios, nem mesmo de quantas são as cotas e seu valor. Boatos não têm faltado, inclusive envolvendo conhecido grupo estrangeiro que, no entanto, estaria vinculando sua participação ao acesso do Santo André para a Série A. Falou-se em reforços de qualidade, bancados por alguma provável parceria já acertada (a vinda do atacante Cléberson, do Porto, chegou a ser noticiada pela imprensa, e outros nomes circularam no boca-a-boca pelas cadeiras do Bruno Daniel), mas nada se confirmou.

Também nada se sabe quanto ao nível de interesse e entusiasmo dos empresários da região com o CE. Mas o primeiro público alvo deve ser o próprio Conselho Deliberativo do clube, onde têm assento vários micro e pequenos empresários e profissionais liberais, que já possuem vínculo afetivo com o Ramalhão. Também acho que não se deva capilarizar demais a participação, mas definir cotas de valor muito elevado afugentaria a maioria dos prováveis investidores. Neste caso, só a prática irá mostrar qual é o ponto de equilíbrio ideal.

Mas a constituição do CE pode ser uma corrida contra o tempo. Embora a matéria da Livre Mercado tenha passado ao largo desse detalhe, há um evento a caminho que influirá de forma decisiva na viabilidade do empreendimento: a eleição para a Presidência do ECSA, no final deste ano. Não há dúvidas que o desmembramento diminuirá muito o apelo e o poder do presidente, portanto pode ser de interesse do novo ocupante do cargo que o CE nunca saia do papel. Para evitar que isso aconteça, Livólis terá que deixar a presidência do ECSA com o CE legalmente constituído, com a composição societária completa e todas as alterações estatutárias já concluídas - e é possível que não haja mais tempo para tanto.

De toda forma, nós torcedores temos que ter consciência de uma coisa: a criação do CE não representa a solução para todos os problemas do Ramalhão. Não teremos subitamente dinheiro para montar um timaço e ser campeão de tudo, mesmo porque a prioridade, no começo, deverá ser a construção do CT. E assumir a condição de CE não é garantia de sucesso, como prova a situação atual do... hum... São Caetano (mil perdões, leitor) e de outros clubes que já adotaram o formato.

Uma gestão empresarial pode até ser necessária no futebol moderno, mas, independente de CE ou não, o sucesso de qualquer empreendimento continua dependendo antes de mais nada de trabalho sério e honesto. Os Ramalhonautas estão atentos ao assunto e nunca deixarão de cobrar seriedade dos novos dirigentes do futebol do Ramalhão, seja no formato que for.







 

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