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10/09/2007 - 08:01:56

A vida começa aos 40?

Carlos Silva

No próximo dia 18 de setembro, o E. C. Santo André completará 40 anos de existência, iniciada numa noite chuvosa no antigo Tiro de Guerra na praça Dezoito do Forte, onde hoje ergue-se o viaduto de mesmo nome.

Um conhecido ditado diz que "a vida começa aos quarenta". Essa frase surgiu em tempos mais tranqüilos, quando se achava que aos 40 anos o homem já haveria cumprido os chamados encargos da mocidade – tais como formar-se, consolidar-se na carreira, casar-se, criar os filhos – e poderia então relaxar e começar a "desfrutar da vida", dedicando-se ao descanso, lazer, viagens, etc. Mas o mundo mudou. Em nossa sociedade moderna, o homem (e, claro, a mulher também) é obrigado a manter-se produtivo indefinidamente, e a aposentadoria, antes tida como a recompensa por décadas de trabalho, agora é vista como um peso para a economia e cada vez mais protelada e dificultada por seguidas reformas previdenciárias.

Também o Ramalhão, ao olhar para as quatro décadas já vividas, perceberá que está muito longe de poder descansar sobre os louros das conquistas alcançadas. Pelo contrário: se o clube chega a esse aniversário plenamente consolidado no plano recreativo, no futebol vive um de seus momentos mais dramáticos, a um passo de perder seu lugar no cenário nacional, tão duramente conseguido.

O torcedor ramalhino, ao ver seu time de coração completar 40 anos, tem a impressão que a vida do Ramalhão sempre foi uma gangorra, com sucessivas fases de êxito e de ostracismo. As dificuldades iniciais foram gigantescas, mas veio a consolidação na segunda metade dos anos 70, já com novo nome e camisa; nos anos 80 o acesso ao Paulistão, o primeiro Brasileiro, emoções novas para o torcedor; na década seguinte o descenso, novas e grandes dificuldades, até o retorno à elite do Paulistão já no novo século, a que se seguiram as maiores conquistas do clube até aqui: o acesso à Serie B do Brasileiro e o título da Copa do Brasil, com a conseqüente estréia internacional, na Copa Libertadores. Então veio a sensação que o ECSA superara definitivamente as dificuldades e iria infalivelmente assumir seu lugar entre as equipes de ponta do futebol brasileiro.

Pura ilusão. Da mesma forma que o trabalhador, ao fazer 40 anos, percebe desconsolado que ainda terá que trabalhar outro tanto antes que possa finalmente, como diz uma certa ministra, "relaxar e gozar", o Ramalhão também está a um passo de voltar ao ponto de partida e ter que começar tudo de novo. O risco de rebaixamento é real, não é pequeno e a torcida deve preparar-se para essa possibilidade.

A modernização prometida com a terceirização do departamento de futebol ainda não gerou frutos, e talvez nem tenha tempo de produzí-los se o rebaixamento para a Série C vier a acontecer; pois, fora da elite estadual e da Segundona do Brasileiro, várias fontes de renda serão cortadas ou fortemente reduzidas, entre elas a recém criada Timemania, afugentando os investidores e obrigando a uma revisão completa de projetos e pretensões.

Por essa mesma razão, o aniversário do clube, que seria a ocasião ideal para uma grande festa, congregando torcedores, sócios, dirigentes e cotistas (foi até mesmo criado um logotipo somente para o evento), deverá passar quase despercebido. Com todos os recursos e esforços voltados para a dura missão de manter o Ramalhão na Série B, os planos de festividades foram abortados. Ocorrerão apenas eventos restritos de caráter social, dirigidos aos cotistas do Santo André Gestão Empresarial Desportiva Ltda. (nome oficial do "clube-empresa", apelido pouco adequado pois não se trata de um clube) e ao corpo associativo do ECSA, mas nada voltado para o torcedor ramalhino especificamente.

Ao torcedor resta trocar a festa pela reflexão. O número redondo "40 anos" não traz nenhuma revolução em nossas vidas, nada muda substancialmente apenas por entrarmos na chamada "maturidade", como se esta significasse apenas acúmulo de anos: nossas necessidades, objetivos e cobranças continuarão exatamente os mesmos. Apenas teremos mais alguns cabelos grisalhos e um corpo sem o mesmo vigor de outrora. (Acreditem, já entrei nessa fase há um tempinho.) Com o Ramalhão ocorrerá a mesma coisa: o clube continuará sua luta sem descanso pela estabilidade financeira e pela conquista de um lugar de destaque no cenário do futebol brasileiro, ainda que num cenário cada vez mais árduo e competitivo.

Desta vez a sabedoria popular está ultrapassada: a vida não começa aos quarenta. De fato, no sentido que o ditado nos apresenta, de uma vida sossegada, sem sobressaltos ou obrigações, ela nada mais é que uma utopia.

O melhor presente que posso desejar ao Esporte Clube Santo André, na ocasião de seus 40 anos, é que daqui a uma década, no Jubileu de Ouro, possamos olhar para os dez anos anteriores e perceber que tudo melhorou e que "aqueles problemas" foram apenas uma fase de transição completamente superada.







 

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