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24/12/2005 - 23:36:00

Aurélio Loureiro Bastos

Entrevistador(es): Elias Barbosa Lima




Revivendo 1975

Entrevista feita em 05/11/2005 com "Mestre Aurélio", técnico Campeão Paulista da Primeira Divisão de 1975, pelo Esporte Clube Santo André.

O papo entrevista foi agendado por telefone e marcamos encontro numa esquina próximo a casa dele. Ao me dirigir para o local combinado imaginei um Sr. Aurélio 30 anos mais velho, e quando cheguei, ele me esperava igualmente ansioso, agora de cabelos totalmente brancos.
Ao entrarmos em sua casa perguntei se não faltava nada e ele de bate pronto sem perguntar o quê, respondeu apontando: olhe ali. Na mesa repousava o seu tradicional boné!
Antes da entrevista conversamos, por uns trinta minutos, sobre esse tempo todo passado, e o comunicamos do Jubileu de Pérola, evento para comemoração dos trinta anos do primeiro título do Ramalhão e que seria realizado em 10 de dezembro.

Aurélio Loureiro Bastos nasceu em 18/05/1921, no Distrito de Aveiro, Portugal. Veio de navio para o Brasil em 1935 com 14 anos de idade e ficou livre de prestar o serviço militar português.
Após a chegada foi residir na Vila Alpina, às margens do rio Tamanduateí e avenida do Estado, na cidade de São Paulo, divisa com o Grande ABC.
Morou durante quinze anos em Itanhaém, litoral Sul Paulista, retornando para a Vila Alpina onde mora até hoje.
Viúvo há seis anos de Dona Olímpia das Neves Bastos, tem quatro filhos, oito netos e doze bisnetos.
Tira expediente em parte do dia no seu antigo escritório, anexo a sua casa, de comercialização de peças de automóveis e hoje gerenciado pelo filho.

Como foi o inicio da carreira no futebol?
Quando garoto lá em Portugal, gostava de jogar e era torcedor do Porto. Aqui no Brasil joguei no Vila Alpina, futebol amador. A distribuição dos times naquela época era regional e o V. Alpina disputava a liga de futebol de Santo André. Depois com a emancipação de São Caetano fomos disputar pela Liga de S. Caetano.

Em que posição jogava?
Com essa altura toda eu era goleiro (risos), quando havia necessidade eu quebrava um galho na linha. Eu disse apenas quebrava um galho! Em 1948 eu e um amigo, o Luís que também jogava, fomos ser dirigentes do V. Alpina. Em um mês o Luis desistiu e eu continuei até ser pentacampeão de futebol amador. Saí e voltei para ser mais uma vez campeão. Depois desisti e me infiltrei no profissional, freqüentando os vestiários dos jogos do Corinthians e
Santos, sempre observando a tudo para um dia ser técnico profissional.

Atualmente, tem assistido aos jogos do Ramalhão?

A última vez que fui foi com o Nélson Perdigão, que atualmente mora no interior. Vou te falar, hein! O Nélson é um cara que colou comigo que ficou, viu! Ele vem de longe e a gente passa um longo tempo batendo papo. Voltando a última vez, quando chegamos no Bruno Daniel vimos o Wigand sentado próximo à entrada das numeradas e sentamos com ele. Não vi mais ninguém do meu tempo e se tinha não apareceu. Outra coisa, ninguém, mais ninguém mesmo, lembrou-se de mim nestes anos todos como vocês lembraram, e olha que eu fui campeão. Então tenho que ser muito grato, a você e seus amigos da torcida (Ramalhonautas). Estou orgulhoso e com muita satisfação desta conversa, a gente volta lá atrás, se passaram 30 anos, caramba! Vejo o que fiz na beira do campo e agora converso com você que era um garoto na arquibancada e guarda a imagem do seu time que nós dois estamos reproduzindo....É difícil, hein... Muito difícil, eu me emociono (lágrimas). Agora fiquei chateado, porque muita gente deve ter me reconhecido no estádio, mas ninguém veio falar com a gente.

Falando em Wigand, tem visto o ex-presidente e fundador?
Já faz um tempinho que não nos vemos. Estou com muita saudade dele e se eu não o vir no final do ano lá na festa que vocês farão (Nota: o Jubileu de Pérola da primeira conquista do Ramalhão, comemorado em 10/12/2005), no verão quando eu estiver na praia vou procurá-lo com certeza. No duro, estou com muita saudade dele. Oh! O Wigand é um ardo.

O Sr. foi técnico do Santo André em 1973. Qual o motivo da saída antes do final do campeonato?
Vou te falar umas coisas (levanta, sai da sala e volta com uma caixa de documentos). Dê uma olhada nestes documentos. Este foi o relatório que fiz na minha chegada para o Wigand, analisei todo o plantel disponível naquele momento. Veja bem, não contra indiquei ninguém, apenas sugeri os pontos onde alguns jogadores precisavam melhorar (comprovado no documento datado, assinado e bem guardado). Infelizmente alguns não compreenderam e o ambiente não ficou propício para eu continuar. Neste time já estavam os agradáveis Luisinho Maia e Romolo, que foram campeões comigo em 1975. O Romolo, embora garoto, me deu uma grande força nessa fase, sendo meu confidente e eu dele.

Em 1975, o técnico cotado era o badalado João Avelino. Quando o presidente Wigand o convidou em meio a toda crise financeira que o clube passava, o que o Sr. achou?
Quando convidado, fiquei muito emocionado, ainda mais pelo pedido ter partido do Wigand (lágrimas). Ele me explicou a delicada situação financeira do clube e a solicitação foi para eu ajudá-los. Não combinamos salários nem nada, o salário seria acertado depois, quando a situação do time estivesse equacionada. Com pouco mais de um mês o Acyr (presidente Acyr de Souza Lopes) assumiu, houve a transição do FC para EC e aí foi bom para todos.
Eu procuro guardar as pessoas pelas atitudes!

O time de 1975 era jovem e com jogadores surgidos no futebol local, os mais experientes eram o Luisinho Maia (lateral direito), Ronaldo (goleiro) e o Flavião (zagueiro). Quais eram as suas perspectivas quando assumiu?
Realmente, por exemplo: o Muró tinha 17 anos. Eu já tinha conversado com o Wigand sobre o que poderíamos render com esse time, sem nunca esquecer as condições financeiras do clube. Acredito que devido a todas estas dificuldades, todos davam o máximo de si, fora e dentro do campo, indo e voltando, ocupando sempre todos os espaços. Certa vez, fui questionado pelo Daniel Lima (jornalista) que eu deixava os laterais presos, e respondi que não eram presos e sim responsáveis de ir e voltar. Só iam com segurança, quando o esquerdo subia o direito ficava e vice-versa. Tudo era programado! O grupo era extremamente obediente, fechado, cumpridor das determinações, e esta foi a razão para se produzir tanto naquele ano, chegando ao título. Olha, só tinha jogadores educados, dóceis, facilitando o trabalho e eu passei a ser pai daqueles meninos, principalmente com muito diálogo. Estou lembrando da minha despedida do Santo André, no final de 1976, que ocorreu lá na chácara da G.E. (Nota: atual Parque Prefeito Celso Daniel), pôxa....Dei uma palestra e me despedi de todos indo para o meu carro no estacionamento. Quando percebi todos os jogadores me acompanhavam e foram cumprimentar minha esposa. Saí com o carro e ainda pude ver todos acenando. Pô! (emocionado). Era um grupo muito bom, difícil de ser montado e se tivesse cafajeste no meio não conseguiria produzir o que produziu.

Porque da saída no final de 1976, quando o time era segundo colocado do campeonato?
Tive problemas de saúde e passei por uma operação do estômago. Aconteceu um fato interessante logo após eu ser operado. As enfermeiras do hospital posicionaram a cama de uma forma que se formou um corredor e fiquei surpreso quando recebi visitas dos jogadores do Saad e do Santo André. Eles iam passando, me vendo, cumprimentando e até batendo na minha cabeça. Foi muito legal, ainda mais considerando que tinha acabado de ser operado.
Voltando a saída. Quando saí deixei um substituto preparado para assumir, se bem que ele relutou um pouco a princípio e depois consegui convencê-lo. Estou falando do Sebastião Lapolla. Depois em 1981, quando o Santo André conquistou novamente o título, o Lapolla era o técnico e eu o seu supervisor técnico. Nada chegava a ele sem antes passar por mim. Lapolla, grande amigo!

Como foi a transição do Santo André Futebol Clube do presidente Wigand, para o Esporte Clube Santo André do presidente Acyr?
Antes da chegada da nova diretoria eu tinha conversado com Wigand e repassamos para todo o grupo ficar tranqüilo, lutar, colaborar e torcer para o time arrumar patrocínio. Caso a situação piorasse arrumaríamos clube para todos jogarem. A grande maioria era de interesses de outros clubes e não seria difícil. Falei, esse é o momento. O clube precisa mais que nunca de todos. Quem quiser ficar fica, quem não quiser pode deixar o clube. Infelizmente o volante Celso Cachimbo (falecido) resolveu sair. Também foi o único, hein!
Achei que com o aparecimento das novas pessoas que iam comandar o clube a minha participação estava encerrada. Quando o Acyr assumiu, apresentei todos os jogadores para ele e falei que ia embora, porque não tinha nenhum compromisso com a nova diretoria. O meu compromisso foi com o Wigand. Nessa hora o Acyr e o Lapolla falaram, nada disso! O senhor está no meio e faz parte do grupo (emocionado). Um dia estava dando uma entrevista para um canal de televisão e o Acyr ligou pra lá e me cumprimentou. Fiquei contente e achei muito bacana da parte dele. O Celso Motta era um ponta muito rápido, então eu determinava para ele que quando perdêssemos a bola ele voltasse imediatamente para ajudar a defesa. O Acyr me questionava o porquê e eu expliquei. Em algumas partidas que fizemos fora o Acyr esteve conosco no banco de reservas, e quando o Motta perdia a bola ele não esperava nem eu nem ninguém falar, e já gritava para o Celso Motta voltar, hehehe. Foi uma época muito boa da minha vida. Vou contar um outro lance do Acyr que vocês não devem saber. Se num jogo o time vencia, mas não se comportava bem, ele não pagava o prêmio. Em compensação no jogo em que o time saía derrotado, mas demonstrava um bom empenho, ele pagava.

Durante a temporada de 1975, participou de um curso de aprimoramento técnico com o Oto Glória e o Ilton Fritzen. Procurava estar a par das novidades do meio?
Isso mesmo (risos). Como você lembrou? Tirei proveito disso também. Tudo que pudesse acrescentar algo bom ao time eu ia atrás. Vivia assistindo as preleções dos técnicos mais experientes. O Manga do Santos era um que sempre que possível eu estava ouvindo.

O Manga, falecido recentemente, foi o primeiro técnico da história do Ramalhão. Tinha conhecimento desse fato?
Caramba!! Eu não sabia. Então, o Manga que tinha aquele ar de bonachão foi o puxador da fila (risos).

O gramado do Brunão nunca foi bom e no segundo semestre daquele ano estava pior ainda, devido o Saad também ter mandado seus jogos lá. Como lidou com essa situação?
Era uma tristeza! O problema maior era o sistema de drenagem que não era bom. A função do técnico é esta, tem de se olhar tudo; gramado, jogador, estilo do adversário e então juntar tudo e tirar o melhor proveito possível. Sempre contando com a vontade e colaboração dos jogadores.

Durante a temporada campeã, o senhor não fez uso das famosas concentrações, com exceção do jogo final com concentração prevista no atual Parque Prefeito Celso Daniel. Por quê?
Por um fato muito simples. Confiança! Eu confiava no grupo, mesmo sabendo que tinha uns meninos nada santinhos, mas eram obedientes e educados. Hoje não sei se poderia ter a mesma postura. Atualmente é difícil confiar nos jogadores. Que grupo nós tínhamos, hein? (bate no peito e se emociona).

Nas finais quiseram mudar o regulamento e decidir o campeão em três jogos. O senhor foi contra e afirmou que independente do critério definiria em dois jogos. A confiança era tamanha ou foi uma forma de incentivar o grupo?
Também. Quando fomos jogar o primeiro jogo lá na casa do adversário (Catanduva), eu fui para empatar e tinha certeza que no mínimo voltaria com um empate. Se eu colocasse o time pra cima, tenho certeza que venceríamos, mas poderia ocorrer algum acidente, alguma surpresa, algum erro e o resultado não ser o previsto, tanto que no final do jogo coloquei o Luizinho Gaúcho para ser mais um jogador a reforçar o meio de campo. Eu e o grupo sabíamos que em casa o jogo era nosso. Eles tinham um bom treinador e elenco, mas naquele ano o Santo André sobrava na competição.

Neste jogo de ida, o Robertão (lateral direito) estava suspenso e a opção foi o sempre prestativo e polivalente Luisinho Maia. No final do jogo foi aquela mistura de vibração com choros dos jogadores. Neste momento o título estava ganho?
Bem lembrado do Luisinho Maia. Era um jogador que estava no banco, mas com total condição de ser titular. Infelizmente nem todos podiam jogar. Quando ele entrava o time não sentia, continuava no mesmo ritmo. Tínhamos alguns reservas que eu ficava extremamente chateado de não pôr para jogar, porque tecnicamente eram iguais aos titulares. Outro exemplo era o Tito. Esse rapaz era um baita jogador, sempre colaborou e nunca reclamou de nada, eu não podia mexer num time que vinha tão bem no campeonato. Um time que perde apenas quatro partidas durante toda a competição, não pode ser mexido se não for por alguma necessidade maior, correria o risco de desvirtuar um plano que vinha bem. Ficava chateado. Olhava para o banco e via jogadores de ótima qualidade, excelentes amigos e sem poder alterar. Essa foi uma das coisas que mais me incomodou ao longo do campeonato. Olha, a gente nunca deve achar que o próximo jogo está ganho, mas depois do empate eu sabia que nada nos tiraria o título.

No campeonato de 1971, o senhor perdeu a final para o Marília, dirigindo o Saad. Um dos jogos foi apitado pelo Faville Neto, o mesmo que apitou o primeiro jogo da final de 1975. Ficou temeroso com a escalação desse árbitro?
Vamos por partes: sempre gostei e me dei muito bem com o presidente Felício Saad (Nota: falecido em outubro de 2005), mas ele também teve culpa pela perda. Antes da partida presenciei um lance dos dirigentes do Marília nos vestiários dos árbitros. Conversei com ele e pedi ação. Ele nada fez e falou que o nosso prêmio em caso de conquista seria alto, não tinha com que se preocupar com o que vinha do outro lado. Para mim seria uma casa e para os jogadores um carro cada. Também tivemos culpados no meio do nosso time, uns dois jogadores que se venderam. Infelizmente só fui conhecê-los melhor depois de perder o campeonato. Aquele grupo não era igual ao do Santo André. Lá nós tínhamos uns traíras. Filho, no final daquele jogo fiquei sentado na calçada sozinho, não queria que ninguém ficasse comigo e chorei até as 6h00 da manhã. Agora você consegue entender qual não foi a minha emoção quando fui campeão pelo Santo André em 1975.

Voltando ao Faville...
Não! Não temi o juiz. Depois daquela final que ele prejudicou meu time, fiz cobranças a ele e se desenvolveu daí uma amizade natural de respeito entre técnico e juiz. Naquela época os dois se conversavam, técnico falava com juiz e não gritava como hoje. Passou a existir um respeito mútuo e eu não o temi para o primeiro jogo da final.

Passaram-se 30 anos, mesmo assim consegue se lembrar qual foi o jogo mais difícil do campeonato... (interrompe).
A cada momento eu lembro de um fato ocorrido, agora, era um time "todo bom", não tinha trairagem. Volto ao Luisinho Maia e ao Tito como exemplos de incentivo aos companheiros. O Luisinho tinha bastante tempo e boa carreira no Santo André. Nunca! Nunca mesmo reclamou da reserva e sempre quando precisei estava disposto a colaborar com o grupo. Esse grupo me emociona muito. Todo mundo se protegia! Quantas vezes pessoas de fora me falaram que o Flávio deveria pendurar as chuteiras. Pendurar o saco! (irritado). Com a altura, disposição e vontade que ele tem? Sem considerar que ainda vai ao ataque e marca gols. Que parar que nada.

Voltando a 75. Um clube em fase de transição, um futuro incerto, com um pequeno patrimônio, restrito a torcida, camisas e jogadores; e hoje com um bom patrimônio, excelente quadro associativo e títulos de expressão conquistados. O senhor olha para o passado e vê que foi o primeiro técnico vencedor. Qual o sentimento?
Olha, todo técnico do Santo André devia conhecer um pouco da história do clube e, nas preleções, passar tudo isso aos jogadores para saberem onde estão. O quão árduo foi o caminho. Veja o Sérgio Soares que começou fazendo um bom trabalho neste sentido, diria até depois da conquista da Copa do Brasil de 2004 (Nota: Sérgio Soares assessorou Péricles Chamusca e comandou em campo o time nas semifinais e finais, devido à suspensão do titular), mas no transcorrer deste último campeonato se perdeu (Nota: Série B do Campeonato Brasileiro de 2005). Devia ter saído antes. Mudou a forma de trabalhar, ficou muito ele e deve ter esquecido que era apenas uma parte do grupo. Está indo pro Juventus, mas ali é fácil. Tinha que ter tomado mais cuidado. No sucesso também devemos ser humildes e essa situação também serve pro Chamusca. Cadê ele?

Lembra-se de algum detalhe para repassar ao torcedor, referente ao jogo final da conquista do título num Bruno Daniel totalmente ocupado pela torcida? (Nota: Naquele período não existia a arquibancada descoberta.)
Olha, antes do jogo pensei em tantas coisas e lembrei de tantas outras que nem te digo. Lembro-me de um detalhe para escolha do lado do campo. Recomendei que seria melhor jogar a fase decisiva da partida contra o vento.
O então prefeito Antonio Pezzolo (falecido) me questionou. Mas o senhor prefere jogar contra o vento? Não seria melhor jogar a favor onde o próprio vento carrega a bola sem maiores esforços? Respondi: Da mesma forma que ela é carregada, ela também tem facilidade em fugir dos pés. Contra o vento ela é mantida nos pés dos jogadores. Ele riu e disse: " Esse Seu Aurélio..."

O senhor é conhecido como um homem emotivo. Como foi após o apito final e a certeza da conquista, segurar essa emoção?
Veja, eu não chorei. Antes dos jogos eu tomava calmantes para evitar ficar nervoso, quando chegava a hora dizia para os jogadores: Agora é fácil. Este foi o motivo para eu segurar o choro após a conquista. O pior momento foi quando vi meu neto, o Mauricio, chorando. Nessa hora achei que não resistiria, mas consegui segurar. Em compensação chorei depois por mais de uma semana. Era em casa, cada amigo que eu encontrava e principalmente quando lembrava da conquista.
Realmente eu sou muito emotivo, como você pode ver.

Durante a campanha o Santo André venceu 19 jogos, empatou 5 e perdeu apenas 4. O que falar de uma campanha como essa? Qual foi o ponto forte do time?
O ponto forte estava na união do grupo e no meio campo devido à colaboração de todos. O Fernandinho era o líbero do time, o Vicente e o Souza faziam a meia e lá na frente eu optava pelo Tulica (centro avante). O Celso Motta na ponta direita e o Rômolo na ponta esquerda, voltando para auxiliar e mesmo assim o Fernandinho ia várias vezes à frente para chutar a gol. Todos eram conscientes de que quando alguém saía da posição o outro tinha que ir cobrir e cobriam. Sendo assim, quem estava de frente para o gol tinha total liberdade de ir porque teria sempre um guardando sua posição. O grupo era muito obediente.
Agora, a não concessão do nosso acesso foi um roubo. O pessoal da Federação que comandava o futebol gostava dessa pratica. Prometiam a vaga para os times que eles "gostavam" e se o campeão não fosse do gosto deles e subisse, perderiam este controle. Nos roubaram!

Qual a mensagem que o senhor mandaria para a torcida do Santo André?
Ultimamente tenho acompanhado o Santo André apenas pelo noticiário. Toda vez que termina uma rodada, lá vou eu ver os resultados do time, mas fica difícil, porque apenas acompanho pela imprensa. Hoje não conheço mais a torcida, sou do tempo do Borracha (Nota: torcedor símbolo dos anos Setenta).
Eu continuo torcendo e acompanhando de fora para o clube continuar nesta fase crescente, ainda mais que fui um técnico vencedor no clube e faço parte da história. Deixei muitos amigos e gostaria que torcedores e dirigentes incentivassem sempre o time para continuar conquistando glórias. Durante um tempo deixou algumas escapar, mas deve-se continuar conquistando novas glórias e vitórias. Gostaria de ver e estou torcendo pela continuação no surgimento de novos torcedores como vocês que 30 anos atrás, ainda garotos, estavam nos prestigiando e hoje dando essa contribuição ao clube que com certeza acarretará em mudança de postura da direção. As pessoas que conheço da diretoria atual não são más, mas, assim como todos nós, precisam de um fato novo e de gente como vocês para irem evoluindo.

Em nome dos Ramalhonautas e para a torcida do Ramalhão, agradeço pelo privilégio concedido nesse papo entrevista. Muito obrigado, Mestre Aurélio.
Eu é que agradeço e sou um felizardo de ter tido vocês como torcedores naquela época. (Emocionado.) Obrigado de coração!

No final da entrevista Mestre Aurélio nos fez uma grande surpresa: deu-nos a bola da partida final apitada por Romualdo Arpi Filho. "A bola do titulo de 1975". Selamos então um acordo que a mesma seria doada, junto com um material do ano de 1975 de que dispúnhamos, para fazer parte do acervo do Memorial do Esporte Clube Santo André quando este for criado. A bola e o material foram entregues ao presidente do E. C. Santo André, Jairo Livólis, durante a comemoração do Jubileu de Pérola, constituindo um dos pontos altos do evento.


 






 

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