Às vésperas da primeira exposição "Tuas Cores Nos Encantam", uma exposição de camisas do Ramalhão organizada pela sua fiel e fanática torcida, resolvi contar uma história que, entre tantas outras desse nosso time do coração, é uma das minhas favoritas.
Existe uma confusão a cerca de qual era o uniforme numero um do Ramalhão nos seus primórdios. A maioria dos tocedores acredita que o Santo André usava o uniforme amarelo como mandante e o branco como visitante. Esta confusão tem um nome: Enir.
Tudo começou no dia 8 de Abril de 1968, no amistoso que seria a primeira partida oficial do Santo André, na época Futebol Clube. O "Todo Poderoso" Santos de Pepe e Cia. entrou em campo usando sua camisa com listras brancas e pretas e o Santo André usando seu uniforme nº 1, fazendo valer sua posição de mandante: Calções e camisas brancas com golas e punhos amarelos, e duas faixas na frente, uma verde e outra vermelha. Estas eram as cores oficiais da bandeira de nossa cidade e por este motivo adotadas também nas cores do time.
O Estádio Américo Guazzeli estava lotado naquela tarde de segunda-feira, feriado de aniversário de Santo André. A imprensa destacava que a torcida era quase toda Andreense e vibrava aos toques do time que estava nascendo. "A Gazeta Esportiva" do dia seguinte era só elogios para a torcida que tomou todos os lugares e cantou o jogo todo, empurrando o Santo André para a vitória.
Vitória essa que começou a ser escrita aos 31 minutos do primeiro tempo, quando Enir acertou um belo chute no canto do goleiro Zé Roberto e colocou seu nome na história como autor do primeiro gol oficial da história do clube. Werneck ainda empataria para o Santos, mas Zezé - o primeiro brasileiro a jogar na Alemanha - faria o segundo do "Tangará" (apelido que "A Gazeta Esportiva" utilizaria ao se referir ao Santo André, por ser um pássaro amarelo e verde. Curiosamente existe um tipo de Tangará que é azul...) e daria numeros finais a partida.
Após este jogo, o Santo André ficaria meses sem utilizar a camisa branca. O Campeonato Paulista de 68 seria todo jogado com a amarela, o que originou a dúvida sobre qual seria realmente o uniforme numero um do Santo André.
E a dúvida continuou por décadas, 40 anos para ser mais exato. Sempre encontramos pessoas que afirmavam que a branca era a numero um e outras que afirmavam que a numero um era a amarela, até que um dia nosso grande amigo Anízio, zagueiro-central deste time de 68 telefonou para mim e para o Bellotti com a grande notícia: Havia conseguido o contato do Enir.
Bom, para resumir a história, marcamos um encontro e lá fomos eu, Bellotti, Cite (outro grande amigo e quarto-zagueiro de 68), e o Anízio rumo ao local marcado. Durante nossa conversa perguntei a ele se sabia qual era o uniforme um da época e o Enir cravou seco: " A branca". "Tem certeza, Enir? o paulista de 68 foi todo jogado com a camisa amarela. porque isso?" E com aquele jeitão inconfundivel ele caiu na risada e respondeu: "Culpa minha, mano!" "Sua? como assim?" eu respondi sem entender nada.
Ainda rindo o Enir contou essa história maravilhosa:
"- Ao final do jogo contra o Santos, a nossa torcida invadiu o gramado para comemorar a vitória, e na minha direção veio um garoto de mais ou menos uns 9 anos, me abraçou e me pediu a camisa. Pô, mano, tirei e entreguei pra ele na hora! Quando eu olho pro lado um dos diretores do Santo André vinha correndo na minha direção gesticulando e falando:
- O que você fez? você deu a camisa? não pode!
Olhei para ele e respondi:
- Pô, o garoto me pediu e eu entreguei, qual o problema?
- O problema é que não tem outra, porra!
- Ah, problema seu, manda fazer outra e pronto, eu dei e ta feito!
- Ah, é? e vamos tirar dinheiro de onde? não tem dinheiro pra fazer outro jogo!
O time jogava e treinava com apenas um conjunto de camisas amarelas, e um branco. E assim o Santo André foi obrigado a utilizar o segundo uniforme amarelo pelo resto da temporada. Éramos realmente, desde o seu primeiro jogo "Um time de 11 camisas"... ou se preferir, depois desse jogo, 10 camisas, na verdade. Assim surgiu a confusão que durou todos estes anos.
Aliás, onde está você, garoto? (Hoje um senhor com mais de cinquenta anos...) será que esta reliquia de camisa ainda existe?
|