Siga-nos no Twitter! Curta nossa fan page no Facebook!

28/04/2005 - 23:42:29

As Aventuras de Valter Bittencourt no Paraguai - Parte 2

Valter Bittencourt

Começa a guerra, e o vencedor é...
Do enviado especial ao Paraguai, Valter Bittencourt

Fernando concentrado para o jogo - Foto: Valter BittencourtA primeira impressão que tive ao chegar ao vestiário do Santo André, foi a concentração total de um grupo que tinha um objetivo claro. Sair da partida com os três pontos e deixar a vaga mais próxima do que nunca. Para descontrair, Alexandre, Richarlyson e Fumagalli jogam vôlei. Outros fazem alongamento e o experiente Fernando fecha a cara em um claro sinal de concentrarão plena. Para ele, o jogo já começou. Me aproximo e falo das manchetes nos jornais e a expressão dele ao ouvir o meu relato sinaliza que a resposta virá em campo. Rodrigão, um dos mais descontraídos brinca comigo dizendo que foi cortado na preleção, o inocente repórter aqui em um momento acredita, mas logo após o goleador do Ramalhão desmente caindo na risada.




Torcida presente - Foto: Valter BittencourtOutros que aparecem no estádio são os valentes torcedores da TUDA: Esquerdinha e Juca, que após uma viagem rodoviária de mais de 20 horas, chegam mais dispostos do que nunca confiantes com a vitória Ramalhina. Outros 30 brasileiros vieram ao estádio pois participavam de uma excursão realizada paralelamente por um grupo de Santo André, mas ao contrário do que os atuais seis torcedores do Ramalhão vieram fazer no estádio, este grupo torceu mais durante a partida para o time paraguaio. Notava-se que haviam muitos palmeirenses neste grupo.

Mas voltando ao minutos que antecediam a partida: Os responsáveis da FIFA pela regularidade dos jogadores foram ao vestiário conferir nomes e números dos jogadores relacionado. Estava chegando a hora, então decidi subir a cabine de imprensa. Para chegar até ela passei pelo gramado que a princípio parecia estar em bom estado, e logo na boca do túnel, o presidente Jairo Livólis e alguns dirigente conversavam provavelmente sobre algo relacionado a partida. Dentro das quatro linha, percebi que os jogadores não teriam vida fácil, o eco da torcida ecoava muito alto e aquilo era a certeza de que o estádio era um verdadeiro caldeirão. Um dirigente do clube paraguaio me acompanhou com extrema atenção até a cabine destinada à imprensa brasileira o que me provou mais uma vez, que a educação neste país é algo fora do comum. Enquanto arrumo minhas coisas, o Santo André sobe ao gramado sob vaias altíssimas para se aquecer, quando é a vez de surgirem o goleiro Acebal e seu reserva a torcida se inflama e canta sem para. E com o tempo passando mais e mais pessoas chegavam ao estádio, surpreendendo até mesmo a imprensa local.

O que não é uma rivalidade! Percebi uma falha para o fechamento completo dos anéis do estádio, e após a partida um dos torcedores do Santo André soube o porquê daquele buraco. Trata-se de um terreno que ocupa a área incompleta do estádio e que faz parte da herança de uma senhora já falecida. Ela, uma fervorosa torcedora do Olímpia deixou bem claro em seu testamento: Em hipótese alguma, nenhuma geração de descendentes que tiverem o terreno sob seu controle poderá vender a propriedade ao Cerro. Ele como olimpiana fanática não permitiu na vida e nem na morte que o clube rival possa termina a construção de seu estádio. Mas enfim, chega a hora do jogo.

Estádio Lotado - Foto: Valter BittencourtA partida começa e a torcida fica inflamada, algo que me arrepiou e que nunca vi nada parecido no Brasil. Para quem pensa que a Gaviões é algo fora do normal, precisa vir ao Paraguai. Mais de 30 mil pessoas pulando e gritando de uma forma singular, que nunca mais esquecerei na minha vida. Mesmo com o jogo rolando a torcida não pára de chegar ao estádio e logo percebe-se que foi vendida uma carga de ingressos superior do que a lotação do Las Ollas. Pessoas são espremidas em cada centímetro de arquibancada, chegando em alguns momentos a me fazer pensar no pior. Ali estava uma bomba relógio, a qualquer momento poderia acontecer uma tragédia. Do lado de fora, muitos, mas muitos torcedores mesmo com ingresso na mão, não entraram. Uma lotação para entrar na história do estádio.

O Santo André jogava melhor durante todo o primeiro tempo, mas não chegava ao gol. Pelo lado do Cerro, o único momento de perigo foi a bola de Ramirez no travessão de Junior Costa. As rádios locais, ao contrário do que diziam na véspera - falavam que o time seria presa fácil, elogiavam o futebol apresentado pelo Ramalhão, e não demorou muito para aparecer em minha cabine, o repórter paraguaio Blas Antonio Serafini, da Rádio Primeiro de Março, querendo saber mais sobre o tal Santo André. No intervalo da partida entrei ao vivo para todo o Paraguai e disse que tratava-se de uma equipe muito perigosa e que já calou um Maracanã lotado. Portanto, não poderiam cantar vitória antes do tempo.

Mas aos treze minutos da etapa complementar, Santiago Salcedo, o artilheiro isolado desta edição da Libertadores, recebeu a bola após cobrança de escanteio, venceu a marcação de Fernando e marcou seu oitavo gol na competição. O estádio veio abaixo. Um barulho ensurdecedor, algo que só quem presencia sabe o que é. É Libertadores, uma experiência inesquecível. Ao mesmo tempo, acuados sob um mar de pessoas, os solitários torcedores do Santo André viam de um cantinho do estádio seu time ser derrotado pela segunda vez na competição, curiosamente como no primeiro, em uma jogada de bola parada. Mesmo jogando melhor, sofreram o gol. É a típica história que só o futebol pode explicar.

A partir deste momento o Santo André tentava achar alguma saída, mas com a torcida adversária fazendo uma festa difícil de descrever, ficava evidente que seria difícil esboçar uma reação, a equipe tentava, mas o gol querendo ou não, abalou o psicológico da equipe. Estava provado que nem sempre vence o melhor.Sérgio Soares comandava a equipe com punhos fortes e ousou sim, ao substituir Sandro Gaúcho por Rodrigão, Fumagalli por Fernando e Makanaki por Alexandre - o primeiro antes, e os outros dois depois do gol - em uma busca mais do que clara não só pelo gol, mas pela vitória, quem sabe.

Mas como em Libertadores experiência é um fator preponderante, o Cerro soube se utilizar dela e usou demais a catimba na reposição de bola eno trabalho dos gandulas - que de todos, apenas um foi expulso. A equipe paraguaia se fechou e ao Santo André só restou atacar. Mas com a retranca os atacantes pouco fizeram. Quando a partida chegava próxima do fim a torcida cantava todos os gritos possíveis e imagináveis sabendo que a vitória e a classificação estavam consumadas. Era questão de minutos para tudo acabar. No meio de tudo isso, o problema de superlotação já não era mais problema, e sim, solução, pois quanto mais pessoas gritavam, mas o time sabia que a vitória era uma realidade. O juiz apitou o final da partida e de agora em diante, o Santo André precisa rezar, e muito, para conseguir a classificação. A equipe precisar vencer o Táchira em Santo André e torcer por uma combinação de resultados. Como no futebol nada é impossível, vamos esperar para ver.

Enquanto os jogadores desciam as escadas, comecei uma corrida alucinada para chegar até o vestiário. Um repórter local me deu as coordenadas, mesmo sendo um estádio muito grande, em poucos minutos eu estaria lá. Bastava descer um elevador, caminhar em um estacionamento e pedir para entrar no vestiário do Cerro, dali o acesso ao Santo André seria fácil, mas não foi.

Sou instruído a sair do estádio e pela rua chegar ao portão dos visitantes, até aí tudo bem, pois foi nele que entrei no estádio pela primeira vez. Mas por algum motivo, o mesmo porteiro que me recebeu bem no fim da tarde, não mas me reconhecia e proibiu a todo custa minha entrada. Expliquei a ele mais de 10 vezes que era brasileiro e estava acompanhando a delegação no Paraguai. Chamei a polícia e também não adiantou. Outro repórter brasileiro que estava comigo também tentava se explicar em vão. Após mais de 10 minutos de uma discussão que chegou a ter berros por ambas as partes, o porteiro encrenqueiro permitiu a nossa entrada, e para nossa surpresa, as portas do vestiários eram trancadas pelo Assistente Técnico do Santo André, o lendário Joaquim Valdir de Moraes - que nunca havia perdido neste estádio, mas hoje teve sua sorte despedaçada - anunciando que o clima da equipe já não era mais o mesmo.

Continua...

 

 






 

Ramalhonautas - Balançando a Rede! O Site do Torcedor Ramalhino
®2004/2024 - Todos os Direitos Reservados