A entrevista exclusiva realizada com o Jairo Livólis (com certeza, um marco para os Ramalhonautas) abordou, talvez pela primeira vez, diversos aspectos de interesse direto da torcida ramalhina. Nós, que conduzimos o bate-papo, procuramos mostrar-nos neutros e ao mesmo tempo interessados o suficiente para que o Presidente do ECSA se sentisse à vontade para falar com toda a franqueza, e foi o que aconteceu. Tanto que ele nos passou informações então ainda sigilosas, como o acerto com o São Paulo sobre o Richarlyson e as vindas do Jorge Henrique e do Marco Antonio, depois confirmadas, e outras que não se confirmaram (por exemplo, estava sendo negociada com o Goiás uma possível volta do Leandrinho; como as inscrições para a Série B já se encerraram, não há mais porque manter o sigilo).
Há muitas interpretações possíveis para as declarações do Jairo. Seguem as minhas.
O que posso dizer é que a franqueza do dirigente, em alguns casos, chegou a nos decepcionar. Por exemplo, ele não escondeu que o time passa por problemas financeiros, devido ao calote das verbas de transmissão da TV por parte da FBA, e que a diretoria estava (e ainda está) se empenhando para equilibrar as contas, mas que certamente fechará o ano no vermelho. (Esse esforço de contenção de gastos ocasionou, logo em seguida, a dispensa do Valdir Joaquim de Morais.)
O Jairo também deu a entender que considera o andreense em geral desinteressado. Isso ficou evidente nas respostas sobre a venda de carnês e de artigos diversos, como brindes, bonés, etc.: em sua opinião, não existe mercado para tais produtos, já que, quando os mesmos são oferecidos, não existe uma demanda por parte da torcida que possa justificar a manutenção da oferta. É bem verdade que ele responsabiliza, em parte, a omissão (ou inexistência) da mídia regional por essa falta de interesse do público, que simplesmente não acompanha o time (com exceção dos 1.200 freqüentadores habituais do Bruno Daniel) porque não tem como fazê-lo. Mas não podemos ignorar a condição sócio-geográfica muito peculiar do Grande ABC, inteiramente sob a influência da mídia da capital.
Ele também deixou claro que, em sua visão, não há mais nada a fazer para atrair mais público aos jogos do Ramalhão, a não ser esperar que o time suba para a Série A. Além disso, não escondeu sua decepção com o empresariado da cidade quando indagamos a respeito, e nos confirmou que nada devemos esperar nesse aspecto.
Por mais que essas respostas nos tenham desagradado enquanto torcedores, e mexido mesmo com nossos brios, infelizmente inclino-me a dar razão ao dirigente. Somos poucos, de fato muito poucos, para dar ao clube o respaldo que seria necessário. A cidade não está comprometida com o sucesso do time que a representa. Acho que, se o time continuar com a boa campanha na fase de quadrangulares da Série B, a média de público subirá para no máximo uns 3.000, que deve ser o nosso "teto". Costumamos nos agarrar ao argumento de que uma cidade de 800.000 habitantes deveria colocar facilmente 10 ou 15 mil pessoas no estádio, o que é uma falácia, pois a maioria desses 800 mil nem sabem quando o Santo André vai jogar – e, pior, mais da metade nem sequer têm conhecimento da existência de um time profissional na cidade. Afinal, ele não aparece todo dia na Globo, nem na Folha...
Mas, voltando à entrevista, e para concluir: o que é possível para nós, os poucos verdadeiros torcedores ramalhinos, fazer para mudar a realidade apontada pelo Jairo (ou provar que ele está enganado, ao subestimar a torcida e a cidade)? É esse o desafio que se apresenta. A própria existência deste sítio já é uma forma de resposta a esse imenso desafio, e devemos buscar outras mais. Afinal, se nós, ramalhinos, não fizermos isso, ninguém mais fará.
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