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17/04/2006 - 07:32:03

Pontos corridos e metas viáveis

Carlos Silva

Neste final de semana, foi dada a partida para os Campeonatos Brasileiros das Séries A e B. Pela primeira vez, ambos serão disputados pelo mesmo sistema: pontos corridos em dois turnos. É a fórmula mais justa possível, que premia as equipes que mantiverem maior regularidade, mas tem a desvantagem de resultar num torneio extremamente longo: com o inevitável intervalo para a Copa do Mundo, ambos durarão quase nove meses. É uma boa ocasião para tecer algumas considerações sobre essa forma de disputa, eleita pela CBF e pela mídia como a ideal para o futebol brasileiro.

Os torcedores do São Paulo criticam o título do Mundial de Clubes ganho pelo Corinthians (hoje MSI/Corinthians, já que o clube “alugou” sua franquia) dizendo que “não vale” porque o Corinthians não foi campeão sul-americano. Pois os corintianos têm perdido uma boa chance de revidar, dizendo: então o título de vocês também não vale, pois o São Paulo foi campeão mundial sem ter sido campeão brasileiro! De fato, e por incrível que pareça, o Tricolor não levanta a taça de Campeão brasileiro desde 1991, quando, sob o comando de Telê Santana (hoje gravemente enfermo), conquistou o título ao bater o Bragantino na final.

Eis aí uma característica do campeonato em pontos corridos, que tem passado despercebida de quase toda a mídia. Quase toda, pois o ótimo sítio Balípodo (leitura das mais agradáveis para quem realmente gosta de futebol na internet) já abordou em mais de uma oportunidade este tema: a prioridade do campeonato nacional, em prejuízo dos estaduais e regionais, fará com que tenhamos cada vez menos campeões. Sim, pois com o esvaziamento dos Estaduais, restaram apenas três títulos relevantes para os clubes brasileiros: o Brasileiro, a Copa do Brasil e a Libertadores. A cada ano apenas três torcidas, ou menos, darão a volta olímpica e festejarão um título que vale alguma coisa. Quem não tiver capacidade para brigar por esses títulos logo estará reduzido à condição de, no máximo, potência local, ou nem isso. Já é o caso dos times cariocas. Em alguns casos, a ficha só vai cair quando os torcedores de alguns clubes se derem conta de que estão na “fila” há 30 anos ou mais - ou quando caírem para a Segundona.

Nos países europeus, que adotam desde sempre os pontos corridos (embora a fórmula já comece a ser contestada em alguns países), esse processo de depuração chegou ao ponto de haver apenas duas ou três equipes, em cada país, que conquistam 90% dos campeonatos nacionais. Espanha e Itália são os exemplos clássicos, mas o mesmo ocorre em todos os países europeus. No Brasil, ainda estamos longe disso, mas já dá para notar que alguns clubes já estão mais adaptados à nova fórmula e devem, com o tempo, obter maior sucesso nesse tipo de disputa do que outros que ainda têm claras dificuldades. Com o tempo, e se mantida a fórmula de pontos corridos, vai acontecer aqui o mesmo processo de “elitização” e concentração de títulos nas mãos de poucos clubes.

Ora, dirão, essa análise não leva em conta as características do futebol brasileiro: a rivalidade regional e o gosto do torcedor por partidas decisivas, e que por esses motivos os Campeonatos Estaduais sempre existirão. Quem pensa assim não se dá conta que o esvaziamento dos estaduais, nos estados do “eixo” Sul-sudeste, foi concebido para ser definitivo, e que se ainda há uma impressão que esses campeonatos não perderam terreno é porque a mídia os promove, dando-lhes uma importância muito maior do que de fato têm, com a intenção de obter audiência e manter vendagem, num período em que o interesse em futebol seria muito menor. Muitos clubes da Série A já deixaram de priorizar os Estaduais, o que explica a ascensão de equipes “pequenas” como Ipatinga, Adap, Madureira etc., fenômeno coincidente com o “encolhimento” desses torneios. Vale o alerta de outro ótimo sítio de esportes, o Trivela, em recente editorial: os Estaduais, para os times “grandes”, agora não passam de torneios de verão, de “Ramóns de Carranza”, mera fase de preparação para o Brasileiro, e dizer o contrário é mentir para o torcedor. É uma postura bem radical. Mas o tempo mostrará se estão certos.

Nesse cenário, qual será o futuro possível para clubes pequenos ou médios como o Ramalhão? Penso que tudo é uma questão de planejamento e fixação de metas viáveis.

Hoje o sonho de todo torcedor, inclusive nós ramalhinos, é ver nosso time Campeão Universal, e tendemos a não aceitar menos que isso. Mas o caminho para a maioria dos clubes talvez seja moderar suas pretensões e traçar um objetivo, plausível e em conformidade com suas reais condições financeiras, de estrutura, disponibilidade e interesse de parceiros, torcida etc.; e planejar-se para atingir tal objetivo, só cogitando vôos mais altos quando - e se - a meta for atingida.

Nesse rumo, para o Ramalhão a meta viável seria chegar à Série A e nela permanecer, passando a um novo padrão de receitas que lhe permita planejar o futuro: constituir patrimônio, ou formar equipes de ponta. Para um clube como o Treze da Paraíba ou um Juventus, o objetivo pode ser chegar à Serie B; para um CRB ou São Raimundo, permanecer nela. Para um Mauaense, talvez firmar-se como participante na A-3. E assim por diante.

Isso parece insatisfatório para o torcedor? Sem dúvida. Mas o futuro do futebol brasileiro a médio prazo não reserva muito espaço para quem não torcer para aquela meia dúzia de times “papa-títulos”. E, como costumo dizer, reconhecer plenamente a situação em que se encontra é o primeiro passo para sair dela; o segundo passo é querer sair. Talvez nem queiramos dar esse segundo passo, mas com certeza não será por ignorância.

Pontos corridos não são exatamente uma novidade para o Ramalhão. Conquistamos o acesso em 2001 em um campeonato com essa regra. O segredo é manter alguma regularidade, vencendo sempre em casa e buscando o máximo possível de pontos fora. Uma boa referência é tentar manter a média inglesa de 2 pontos por jogo. Na minha avaliação, 75 pontos ganhos deverão ser suficientes para conseguir o acesso, e 44 pontos nos livrarão do risco de rebaixamento. Vamos lá, Ramalhão, nossa meta é a Série A!







 

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