"Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante."
(Chaplin)
A bola ainda não parou de rolar no Paulistão, mas já está praticamente consumado o que tanto temíamos: o rebaixamento do Ramalhão para a Série A-2, na prática a Segunda Divisão do estado, ainda que a divisão que tem oficialmente o título de Segunda seja, na verdade, a quarta. Coisas da FPF.
As razões desse inesperado tropeço ainda serão longamente discutidas entre os torcedores ramalhinos, e cada qual formará sua convicção, alguns com a razão, a maioria com o sentimento. Nessa hora, chega a ser irônico que o Santo André tenha sido o clube que mais se empenhou para que o acesso e descenso voltassem a ocorrer no futebol paulista, ao conduzir, na pessoa de seu ex-presidente Wigand, o chamado Levante - a agora seja vítima da lei pela qual lutou.
Mas deixemos de lado essa discussão por ora, porque esta coluna tem outro objetivo. Em lugar de lamentar os infortúnios do passado, vamos olhar adiante e tentar apurar as conseqüências do trauma a curto e médio prazo.
1ª: aspecto financeiro. Até que ponto a queda custará $$$ para o Ramalhão? De cara o clube perderá a verba da TV, pois o que se paga para os times da A-2 a esse título é apenas simbólico. Mas a perda nem chega a ser tão grande, pois a parte do leão na A-1 sempre ficou e continuará ficando com os clubes "grandes". Outra fonte de recursos perdida é a bilheteria das partidas em casa contra esses mesmos "grandes", que sempre foi um item importante no fechamento das contas. Na verdade, o pior que poderá acontecer é o clube perder patrocinadores, e ainda não sabemos se isso ocorrerá.
2ª: perda de prestígio. Os campeonatos estaduais já estão reduzidos a meros torneios de verão, preparatórios para o Brasileiro, o que torna quase indiferente que o Santo André dispute a A-1 ou a A-2. Mas o rebaixamento local do time que há apenas 3 anos foi campeão da Copa do Brasil vai repercutir, com certeza, e já não despertaremos o mesmo respeito nos adversários. Por sinal, já sairemos em desvantagem na Série B, onde, além de não estarmos com um time preparado para a disputa, teremos como adversários outros 7 times paulistas que, com exceção da Portuguesa, nos superaram no Paulistão e certamente nos olharão "de cima".
3ª: visibilidade. Aqui o prejuízo é mínimo. No Paulistão já não tivemos nenhuma partida transmitida pela TV aberta, e também na Série B não deveremos ter mais que duas ou três partidas ao vivo para a praça de SP. O Santo André não é visto pela mídia como time capaz de despertar audiência, e como desta vez não caiu da Série A nenhum dos clubes "Vips", como o Atlético-MG no ano passado, a Segundona passará quase despercebida no eixo Rio-SP. Logo, o rebaixamento do Ramalhão não influirá em nada neste ponto: continuaremos longe da mídia, como sempre tem sido. Na realidade, em 2008 a tendência é que o Ramalhão apareça até mais na telinha (Rede Vida, no caso) do que tem ocorrido até agora. Basta ver quantas partidas da Portuguesa na A-2 já foram transmitidas.
4ª: aspecto técnico. Aqui é difícil fazer qualquer previsão. Em princípio, com menos dinheiro espera-se que o Ramalhão monte times mais fracos e portanto decaia tecnicamente. Mas essa análise é por demais superficial e não leva em conta a possibilidade de investimentos futuros pelos cotistas do clube-empresa (se e quando este estiver constituído), além do que a simples disponibilidade financeira não garante resultados em campo (e o Marília é a maior prova disso). Também o maior aproveitamento dos pratas da casa, se o clube partir para essa solução, poderá levar a ótimos resultados, como ocorreu em 2003.
5ª: apoio da torcida. Irá o rebaixamento afugentar os torcedores do Ramalhão? Em princípio, sim, mas apenas em parte: quem tende a deixar de freqüentar as ex-cadeiras do Bruno Daniel será o torcedor de ocasião, aquele que só aparece quando o time está por cima. Mas mesmo esse não tem comparecido, e não é de hoje. E devemos nos lembrar que a maior média de público recente no Bruno Daniel foi alcançada em 2001, quando estávamos na A-2. Ou seja, qual campeonato o time disputa (A-1 ou A-2) tem menos influência no comparecimento do público do que outros aspectos como divulgação, marketing e até mesmo o preço dos ingressos.
6ª: possibilidades de retorno à A-1. Não vamos nos iludir. A Série A-2, sem a presença de times "grandes", é um torneio bem mais equilibrado que a A-1, e tradição lá vale pouco. Não vamos cometer o grave erro de achar que desde já somos os grandes favoritos a voltar rapidamente à "elite". Sem um mínimo de reorganização, corremos o risco ficar na A-2 por um bom tempo: da última vez, demoramos 7 anos para conseguir voltar (é bem verdade que aquele período coincidiu em parte com a construção do Poliesportivo).
Mas só apontar problemas, sem indicar possíveis soluções, não vale. Então, aí vão minhas modestas sugestões para que o Santo André consiga levantar-se, colocar a casa em ordem e iniciar um trabalho de recuperação:
- Iniciar urgentemente as atividades do clube-empresa, definindo planos estratégicos tanto na área de gestão esportiva quanto de imagem do clube. Não vai ser fácil encontrar no mercado profissionais com experiência e talento para conduzir esse tipo de atividades, mas é fundamental que se consiga encontrar tais pessoas.
- Fazer uma análise completa e isenta da situação atual do futebol do clube, inclusive financeira, sem omitir nem ocultar nada (se possível, por meio de uma empresa especializada em auditoria). E dar publicidade ao relatório.
- Reorganizar o Projeto Jovem Santo André, pois doravante dependeremos ainda mais dos jovens talentos que forem revelados pelo projeto.
- Construir, o quanto antes, o CT.
- Montar uma comissão técnica capacitada, que possa formar uma equipe competitiva (infelizmente parece que tal não acontecerá de imediato).
- Manter a todo custo a vaga no Brasileiro da Série B. Um segundo rebaixamento na temporada seria fatal às aspirações futuras do clube.
- Fazer um trabalho eficaz de marketing, visando reaproximar o clube e a cidade. Nada dessas "faixinhas de motel de terceira", que tanto irritaram o Edu Passos e todos os demais ramalhinos: tem que ser coisa séria, conduzida com eficiência. Com isso o torcedor reaparecerá naturalmente.
Mas, a meu ver, a mais importante das mudanças precisa ser psicológica e de comportamento, ou, como está na moda dizer, de "atitude". Os futuros condutores do futebol do E. C. Santo André terão que incorporar o espírito da frase de Charles Chaplin que abre esta coluna: atuar com ousadia e determinação, para sairmos o quanto antes desse brejo.
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