Às vezes, o futebol – como a própria vida – é um filme previsível ou imprevisível. Nem sempre dá para adivinhar os desdobramentos. Vamos ao enredo. Os torcedores do Santo André e o técnico Fahel Júnior puderam comprovar a filosófica teoria de que os maiores vencedores não caem de graça. Idem os dirigentes, torcedores e colegas de grupo de Marcelinho Carioca, que o viram disparar como nunca – nos tempos de Santos, Corinthians ou Vasco – nos 3 a 0 de sexta-feira diante do Avaí no estádio Bruno Daniel pela Série B do Campeonato Brasileiro.
O novo herói da Tuda e da Fúria – as duas principais torcidas organizadas do Santo André – correu como se fosse um soldado ainda não recuperado totalmente de alguma ferida recente. Quem sabe, de uma tremenda e indisfarçável injustiça que cometeram contra ele ao retornar ao Parque São Jorge.
Aquela trama para definir o acerto de uma dívida antiga levou-o a treinar sozinho no CT de Itaquera ou no terrão. Não importam os motivos de tanta trairagem no circo volúvel. O que interessa é que a Fiel ainda o cultiva como eterno xodó.
Lembram-se daquele dia em que – num Corinthians x Brasiliense – não paravam de gritar... De repetir o coro da saudade no lotadíssimo Pacaembu... “Uh, Marcelinho... Uh, Marcelinho... Uh, Marcelinho...”
E o nosso iluminado personagem – que lá estava como rival emocionado na hora da surpreendente homenagem – subiu bem no alto do alambrado para curtir o alegre reencontro. Isso não tem preço. Não se compra na primeira esquina. Não se acha nas curvas da estrada. É algo imortal e indestrutível nos intrigantes arquivos da divina história alvinegra. Não é?
Confidência - Me contaram: na semana em que o Santo André encararia o Avaí, Marcelinho Carioca treinou demais em Jarinu. Na volta ao Grande ABC, também trabalhou intensamente no Bruno Daniel. Fahel Júnior já sabia que o genial meia seria uma espécie de arma infalível para derrubar o rival. Mas, todo teatral, o técnico procurou escondê-lo dos inimigos. Epílogo: deu no que deu.
Herança - Os novos comandantes do Santo André – liderados pelo empresário Romualdo Jr. – assumiram uma estrutura antes arcaica e mal planejada.
Mas, ao contrário do que aconteceu no Estadual, conseguirão salvar o time do segundo rebaixamento consecutivo. A herança do passado reflete as atuais dificuldades do barco nas turbulências da Série B.