Neste domingo pela manhã, na distante Catanduva, o Ramalhão inicia que, todos esperamos, seja uma nova etapa de progressos em sua existência. Depois de sete anos, o Santo André retorna à Série A-2 para lutar pelo retorno à elite do futebol paulista.
Para o torcedor ramalhino que já acompanha seu time há mais de uma década, o campeonato que ora se inicia tem um indisfarçável ar retrô. Vamos enfrentar adversários de tradição, e que no passado foram grandes rivais do Ramalhão dentro das quatro linhas.
Só para recordar: ali estão o XV de Jaú, que nos venceu nas finais do acesso em 1976; a Inter de Limeira, adversário que nos tirou a chance do acesso em 1978; e o São José, contra quem nos batemos em 1979 nas finais da então Intermediária, em partidas que entraram para a História. Mogi Mirim e Botafogo também cruzaram nosso caminho em outras temporadas na divisão de acesso.
Teremos, ainda, pela frente adversários que já na A-1 sempre nos deram trabalho, como a Portuguesa Santista, União de Araras, América e Rio Branco. Por sinal, dos 20 participantes deste campeonato, somente o Monte Azul e o Catanduvense nunca passaram pela Divisão principal (o Catanduvense que já esteve na elite foi o extinto GEC, e o atual é o GCF).
Dependendo do andamento do campeonato o Ramalhão jogará ou poderá voltar a jogar em estádios afamados do interior paulista em que há muito tempo não atuava: Limeirão, Fonte Luminosa, Martins Pereira, Santa Cruz, Palma Travassos, Sílvio Sales... Sílvio Sales??? Sim, foi no estádio de Catanduva, no dia 7 de dezembro de 1975, que o Ramalhão disputou uma das partidas mais tensas e dramáticas de sua história, relatada no livro 1975 – A Saga.
O torcedor veterano que tomar assento nas cadeiras (?) do Bruno Daniel (e, quem sabe, nas arquibancadas, se finalmente a vontade do torcedor for respeitada), para assistir aos duelos do Ramalhão nesta Série A-2, vai com certeza viajar no tempo e lembrar-se da época em que craques como Tulica, Flávio, Celso Motta, Souza, Bona, Mazzolinha, Arnaldo, Da Silva e tantos outros corriam por aquele mesmo gramado (que naquela época era bem pior do que hoje), lutando para levar o Ramalhão para o degrau de cima.
Mas não devemos ficar apenas relembrando o passado, do contrário não sairemos do lugar. Todas aquelas equipes que já passaram pela A-1 e tiveram seus grandes momentos no futebol paulista hoje vêem times "emergentes" como Barueri e Guaratinguetá ocupando seu antigo espaço, e tentam se reerguer e recuperar ao menos um pouco da força do passado, mas a cada ano as dificuldades para sua sobrevivência são maiores. O grande desafio do Ramalhão neste início de 2008 será evitar que lhe aconteça o mesmo que com esses times "tradicionais": ficar por anos acumulando a poeira do ostracismo na prateleira da A-2, enquanto outros brilham na vitrine da elite. E essa motivação deve ser mais importante do que apenas fazer uma longa pré-temporada antes do campeonato que "realmente interessa", o Brasileiro da Série B vitaminado pela presença do Corinthians.
Não vamos nos iludir: com ou sem ar retrô, não será nada fácil esta Série A-2. Vamos encará-la com seriedade e fazer dela uma ponte para um ano de vitórias.
Celso Daniel - No mesmo dia 20/01 em que o Santo André estréia na A-2, completam-se 6 anos do seqüestro e morte do ex-prefeito Celso Daniel, em circunstâncias que jamais serão devidamente conhecidas. Mais que um político respeitado e estadista, Celso Daniel era um ramalhino que enxergava, na ascensão do time, um instrumento de estímulo à cidadania, tendo criado um projeto que visava levar o Ramalhão, em poucos anos, à elite do futebol brasileiro. Por coincidência, uma das peças chave daquele projeto, o empresário Ronan Maria Pinto, hoje comanda a empresa que administra o futebol do Ramalhão.