Siga-nos no Twitter! Curta nossa fan page no Facebook!

11/03/2008 - 12:18:17

A difícil equação de atrair público

Carlos Silva

Vencidas doze rodadas da primeira fase do Campeonato Paulista da Série A-2, o Ramalhão lidera o campeonato invicto e com folga, apresentando-se como grande favorito ao acesso à elite paulista e deixando sua torcida animada e a cidade motivada. Será mesmo?...

Em diversas oportunidades os Ramalhonautas vêm apontando o fato que a média de público no Bruno Daniel recusa-se a aumentar, patinando na faixa dos 1.200 pagantes, mesmo com a notável campanha do time ramalhino. Para a partida contra o Bandeirante de Birigüi, a organizada Fúria Andreense resolveu arregaçar as mangas e fez por conta própria um trabalho de divulgação, com passeatas, panfletagem e faixas no centro comercial, contando com a motivação da cidade em torno do líder invicto da A-2. Considerando ainda as promoções ligadas ao Dia Internacional da Mulher, criou-se a expectativa de um público de 4 a 5 mil pessoas no último sábado. No entanto, o borderô oficial da partida apontou pouco menos de 1.800 pagantes. Fracasso?

Não entendo assim. A ação de divulgação, mesmo na base do entusiasmo, conseguiu levar 50% a mais de público em relação ao que já comparece normalmente independente de divulgação, e esse público "novo" tenderá a voltar, se o time mantiver sua excelente fase. Então podemos considerar bem sucedido o esforço da torcida organizada, e é bem razoável supor que uma campanha de divulgação mais bem planejada possa amealhar platéias ainda maiores, especialmente na fase final do campeonato.

Mas, ainda assim, devemos ser conservadores em nossas expectativas. Como já demonstramos em artigos anteriores, conseguir aumentar a venda de ingressos para os jogos do Ramalhão não é uma questão simples. Há diversos fatores envolvidos, e o primeiro deles (se não o maior) é a concorrência desleal dos "grandes" times, agigantados – quase sempre artificialmente - pela mídia, na busca de cada vez mais audiência e faturamento.

E essa concorrência se mostra ainda mais predatória quando se trata de buscar novos torcedores: como convencer um garoto ou adolescente, massacrado todo o tempo pela cobertura maciça que os meios de comunicação dão aos times "grandes", a torcer pelo Ramalhão, um time distante das mídias? Hoje é muito mais fácil e provável que esse jovem opte por tornar-se mais um torcedor sãopaulino, ou até do Milan ou do Manchester United.

Some-se a isso fatores como o envelhecimento da torcida predominante do Ramalhão, que "abraçou" o time principalmente nas décadas de 70 e 80, está hoje na faixa dos 40 anos e não está sendo "reposta" na quantidade necessária; as condições de desconforto no deslocamento e nas acomodações do Estádio; o medo da violência; a decadência econômica e perda de identidade do Grande ABC; a maior disponibilidade de outras opções de lazer; etc., e temos montada uma equação de solução dificílima, diante da qual uma equação diferencial de 2ª ordem é bico (quem conhece Cálculo sabe o que quero dizer).

Divulgação é importante, mas é apenas um dos motivadores que poderão levar o andreense ou morador das cidades próximas a, se não se tornar ramalhino, pelo menos deixar de vez em quando a comodidade de seu lar (ou do shopping center) para prestigiar o time mais tradicional da região. Há outros instrumentos tão ou mais importantes, alguns dos quais já disponíveis e outros ainda por buscar, por exemplo:

- a existência de uma equipe competitiva, disputando um campeonato interessante;

- presença constante na mídia, especialmente TV;

- ingressos a preços "amigáveis";

- facilidades na aquisição de ingressos, acesso, conforto e segurança na praça esportiva;

- disponibilidade de compra de artigos variados ligados ao time, e não só camisas oficiais;

- resgate da importância da presença do torcedor no estádio (o que significa ir na contramão da tendência atual de, em nome de uma suposta globalização do futebol, igualar os times do Brasil aos estrangeiros e transformar todos os torcedores em meros consumidores de "pay-per-view", abandonando de vez o "ultrapassado", "exótico" e "indesejável" hábito de assistir partidas de futebol in loco);

- liberação definitiva das arquibancadas do Bruno Daniel para a torcida ramalhina;

- campanha de convencimento de fundo emocional, que faça com que o espectador não apenas queira acompanhar o Ramalhão, mas tenha prazer em fazê-lo.

Eis um possível caminho para que se consiga levar platéias maiores ao Bruno Daniel, se é que se quer realmente isso. Mas, como a ação da Fúria demonstrou, não devemos esperar um grande e repentino aumento do movimento nas bilheterias nos dias de jogos, pois o distanciamento e alheamento da cidade em relação ao Ramalhão nos últimos anos são uma realidade de difícil reversão. Se há 30 anos públicos superiores a 10 mil pessoas no Bruno Daniel eram comuns, tal meta hoje soa quase utópica.

Mas ficarei muito feliz se conseguirmos públicos como esses na fase decisiva da A-2.







 

Ramalhonautas - Balançando a Rede! O Site do Torcedor Ramalhino
®2004/2024 - Todos os Direitos Reservados