Se a classificação do Santo André para disputar a decisão do Campeonato Paulista contra o poderoso Santos já foi uma surpresa para a sempre mal informada e tendenciosa mídia esportiva da capital, o desempenho do Ramalhão contra os badalados "meninos da Vila" deixou estupefatos os tais jornalistas e assemelhados que já davam o título santista como líquido e certo antes mesmo dos adversários da final entrarem em campo. Após as finais, em que o Santos não conseguiu bater o Ramalhão (igualdade por 5x5 no resultado agregado) mas sagrou-se campeão pela melhor campanha na primeira fase, diversos sítios e blogs, como o do ramalhonauta Maurício Penessor, foram invadidos por comentários de torcedores dos mais variados times (até do próprio Santos) reconhecendo que o Santo André merecia ter ficado com o título. A frase "Campeão moral" foi bastante usada nessa ocasião.
Desconsiderando os erros de arbitragem que de fato prejudicaram o Ramalhão nas finais (embora o Santos também tenha do que reclamar, já que teve três atletas expulsos na finalíssima), deve-se perguntar como o torcedor ramalhino encarou o resultado do Paulistão. E verificou-se, na lista e em outros fóruns de torcedores, duas correntes predominantes: a dos que lamentam e não se conformam com a perda do título, e a dos resignados, que acham que fomos até longe demais com uma equipe que no início era uma completa incógnita.
Minha tendência é ficar com o primeiro grupo. Acredito para que um time se torne grande precisa começar a pensar como um, e isso inclui seus torcedores. Basta imaginar o seguinte: se no lugar do Ramalhão naquela final estivesse, por exemplo, o São Paulo, os torcedores tricolores iriam conformar-se com a perda do título nas condições em que aconteceu? Não, com toda certeza. A postura do torcedor ramalhino deveria ser a mesma: reclamar por encontrar a cerveja pela metade e não comemorar porque lhe deixaram o resto.
Tenhamos isto em mente: por muito pouco o Santo André não conquistou o título. Podíamos, sim, ter saído de campo no Pacaembu como legítimos campeões paulistas, merecidamente e dentro das regras do campeonato (ainda que nesse caso a já referida mídia iria esbravejar contra o "regulamento injusto"). E devemos lamentar por não havermos conseguido, em lugar de festejar o "quase". Quem gosta de "vice" é o time da cidade ao lado - e não me refiro ao São Bernardo FC, caçula da Série A1.
E pelo mesmo motivo devemos recusar o duvidoso título de "Campeão moral", expressão infeliz e com forte carga preconceituosa. Campeão moral uma ova.
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Muitos têm reclamado do "desmanche" da equipe vice-campeã paulista e que isso trará prejuízos irreparáveis ao desempenho do time em campo. Pensar assim é considerar que a campanha no Paulistão foi conseguida por pura sorte. Em lugar de lamentar o inevitável – que atletas que se destacaram sigam para equipes da Série A – devemos incentivar os novos contratados a mostrarem igual desempenho. É o que nos cabe como torcedores.
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A promoção de troca de ingressos por alimentos não perecíveis na semifinal contra o Grêmio Prudente teve a melhor das intenções, mas foi muito mal executada. Com um planejamento mais bem feito, para partidas específicas, com carga de ingressos pré-definida e um único ponto de troca, os resultados poderão ser excelentes. Mas para isso é fundamental que a Gestão Empresarial e a Administração da cidade consigam articular-se. E o que estamos vendo cada vez mais é o contrário, como no caso da interdição do Bruno Daniel pelo atraso de seis meses (!) na apresentação de um laudo estrutural a cargo da Prefeitura.
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O E. C. Santo André conta hoje com um elenco de mais de 100 atletas profissionais, de acordo com o BID acumulado disponível no sítio da CBF. Boa parte desses profissionais não têm a menor expectativa de serem integrados ao time principal, no entanto geram custos elevados com salários, encargos trabalhistas e sociais, aluguel de moradias, etc. Como a parceria com o Poços de Caldas encerra-se em poucas semanas, a com o Palestra aparentemente soçobrou e alguns atletas que estavam emprestados para times das séries A2 e A3 estão retornando, o resultado será um grande efetivo de atletas vinculados ao clube mas sem qualquer perspectiva de aproveitamento pelo resto do ano. Nada sabemos sobre a política de RH da SAGED, mas talvez fosse economicamente interessante negociar com alguns atletas (e/ou seus empresários) uma redução da multa rescisória e liberá-los para seguirem suas carreiras em outros clubes.
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Estou com pena dos profissionais da TV que cobrem o futebol paulista quando o próximo Paulistão chegar. Se até hoje são totalmente incapazes de diferenciar entre Santo André e São Caetano, com a chegada do São Bernardo vão ficar com nó no cérebro. Se cuida, Galvão.
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