Botafogo de Ribeirão Preto, Bragantino, Guarani, Ituano, Marília, Mogi Mirim, Paulista de Jundiaí, União Barbarense, União São João de Araras e XV de Novembro de Piracicaba. Esta é a lista de equipes paulistas que, a partir de 2001 (quando foi instituída de forma definitiva a Série C com acesso e descenso), foram rebaixadas do segundo para o terceiro nível do futebol brasileiro. Se ampliarmos a relação para as equipes de outros estados, serão incluídos na lista um campeão brasileiro (Bahia), dois campeões da Copa do Brasil (Criciúma e Juventude) e outros times de grande tradição regional, como Santa Cruz, Fortaleza, Remo e Paysandu.
O mais grave aspecto dessa lista de equipes é que em nove anos somente quatro delas – Bragantino, Bahia, Vitória e Guarani – conseguiram refazer o caminho no sentido inverso, ou seja, voltar à Série B (e no caso do Bugre e do Vitória, à elite). Para as demais, restou o ostracismo no cenário nacional e a limitação aos cada vez menos interessantes torneios estaduais, somente com aparições eventuais na Copa do Brasil.
Já entramos na segunda metade da Série B e o Ramalhão surge como maior candidato paulista a ser o próximo figurante dessa seleta, mas nada gratificante, lista. Com míseros 33,33% de aproveitamento até aqui, a campanha da equipe está abaixo das expectativas até do torcedor mais pessimista, algo ainda mais inesperado após a excelente campanha do Ramalhão no campeonato paulista com uma equipe formada basicamente por jogadores reservas da participação na Série A e alguns reforços pontuais.
Ainda parece cedo para encontrar explicações para campanha tão ruim e o risco de cometer injustiças seria grande. Mas está evidente que a fórmula tão bem sucedida no Paulistão simplesmente não funciona na Série B, um campeonato de tiro longo em que o fator sorte praticamente não influi e aspectos como entrosamento e preparação física acabam fazendo a diferença. Também não restam dúvidas que a gestão fracassou na missão de repor os atletas que deixaram a equipe após o campeonato paulista: mais uma vez investiu-se em quantidade, não em qualidade, e em geral constata-se um abismo entre a capacidade técnica dos recém-chegados e a de seus antecessores.
Falando em fracasso, não falta quem alardeie o total insucesso da SAGED na missão para a qual foi criada: gerir com qualificação empresarial, competência e eficiência o futebol profissional do E. C. Santo André. O jornalista Daniel Lima, que tem subido fortemente o tom das críticas pessoais ao presidente da SAGED, enumerou em coluna recente vários erros que estão sendo cometidos pela gestão, a maioria deles já bem conhecidos do torcedor ramalhino. Mas apenas uma dessas dificuldades apontadas pelo jornalista já bastaria para tornar secundárias as demais: a escassez de recursos, reconhecida pelo próprio Ronan em entrevista ao "seu" jornal. As fontes habituais de renda do time (patrocínios na camisa, verbas da TV e vendas eventuais de jogadores) já não bastam para gerar o capital necessário para bancar o futebol profissional, em especial quando se torna necessário manter uma equipe competitiva. Um possível descenso para a Série C tornaria a situação ainda pior, por ser um torneio sem visibilidade alguma, e portanto inútil para alavancar recursos.
Isso quer dizer que a empreitada SAGED está realmente condenada ao fracasso e o Ramalhão à decadência? Não necessariamente. Ao longo de sua história o Santo André sempre conviveu com dificuldades orçamentárias, quase inevitáveis num cenário em que alguns poucos times "grandes" monopolizam atenções e verbas. O que é preciso é gerir com responsabilidade os recursos escassos, e em contrapartida buscar fontes alternativas de renda. Há muito tempo o torcedor ramalhino reclama da falta de iniciativas para aproximar o time da cidade que representa. Eis um campo muito fértil para se trabalhar.
Também a reaproximação entre a empresa e o clube poliesportivo é recomendável e poderá render frutos em pouco tempo. Por sinal, essa aproximação mais que recomendável é absolutamente necessária, pois a tendência atual entre o corpo associativo do ECSA (bastante perceptível para quem frequenta o Jaçatuba e que certamente irá refletir-se no Conselho Deliberativo) é de não gastar mais os recursos dos associados com futebol profissional, mantendo o ECSA apenas como clube recreativo voltado para seus sócios, como o C.A. Aramaçan, por exemplo. Se essa tendência não for revertida, a possível desativação da SAGED implicará no desaparecimento do Ramalhão como representante da cidade no futebol profissional – ou na melhor das hipóteses seu retorno a uma condição de semiprofissionalismo, disputando as divisões de acesso do futebol paulista, a exemplo de dezenas de outras equipes de passado rico, presente pobre e futuro incerto. Mas também não é impossível que esse redimensionamento seja um mal necessário para um clube que talvez tenha dado passos maiores do que suas pernas permitiam.
Uma coisa é certa: a combinação do cada vez mais provável rebaixamento do Ramalhão para a Série C com a desativação da empresa gestora teria efeito devastador para o futuro do futebol profissional no Grande ABC, situação não desejada por ninguém – exceto por aqueles que consideram nossa região apenas feudo dos times "grandes", e que por isso não veem razão para a existência de equipes locais. Por isso é hora de se esforçar ao máximo, para evitar que o Santo André entre para aquela lista referida no primeiro parágrafo.