Trinta de junho. Para a maior parte das pessoas, essa data marca apenas o término da primeira metade do ano, mas para o torcedor ramalhino é um dos dias mais importantes para a história do clube. Neste 30/6 transcorrem os aniversários de duas das mais importantes conquistas recentes do Ramalhão: os 11 anos do acesso à elite do Campeonato Paulista, com a dramática vitória sobre o Ituano no Bruno Daniel; e os 8 anos da conquista da Copa do Brasil, no Maracanã, diante do Flamengo.
O acesso de 2001 com gol de Adãozinho cobrando pênalti nos instantes finais da partida foi o marco inicial de um ciclo de grandes conquistas para o Santo André, que culminou no título da Copa do Brasil exatos três anos depois, e a consequente participação na Copa Libertadores em 2005. Assim o Ramalhão deixou de ser um "obscuro" time da periferia da Grande São Paulo para conseguir um lugar de evidência no cenário do futebol brasileiro – embora temporariamente.
A torcida ramalhina deveria ter grandes motivos para comemorar. Mas...
Infelizmente o curso dos acontecimentos acabou embaçando o valor das conquistas. Em 2001, nem bem festejado o acesso, o clube foi vítima de manobra de bastidores engendrada pelo então presidente da FPF que, para salvar do rebaixamento o Guarani, seu time de coração, articulou o retorno da Liga Rio-São Paulo, esvaziando o campeonato estadual a que havíamos nos alçado com enorme esforço; e de quebra promoveu por "canetada" mais três equipes à divisão principal (A-1), tirando todo o mérito da conquista ramalhina.
Quanto à Copa do Brasil, o tempo mostrou que aquela vitória histórica não gerou frutos definitivos para o Santo André, que por razões conjunturais não se firmou como quinta força do futebol paulista, não conquistou novos torcedores nem alcançou a tão sonhada estabilidade financeira. Após terceirizar a gestão do futebol profissional, conseguir uma rápida passagem pela elite do futebol brasileiro e um vice-campeonato estadual, o Ramalhão amarga hoje a Série C (na qual, por sinal, só conseguiu manter-se por um triz, graças a um erro administrativo de terceiros). De quebra, perdeu também seu lugar na Série A-1 paulista. Está, portanto, de volta às mesmas condições em que se encontrava onze anos atrás.
Ou melhor, se as condições fossem as mesmas ainda poderíamos nos sentir mais otimistas quanto ao futuro. Mas o fato é que a situação mudou bastante em relação aos tempos em que o Ramalhão iniciou sua escalada. Tínhamos então o apoio da cidade; uma mídia local envolvida com as coisas da Região ainda industrializada; um grupo de dirigentes com influência na comunidade local e com laços afetivos com o clube; e um estádio municipal em condições razoáveis. Hoje, tais fatores indispensáveis ao suporte de uma equipe de futebol profissional não estão mais presentes.
Por razões já bastante discutidas neste espaço e em todos os demais fóruns de debates da torcida ramalhina, Santo André (a cidade) passou a, mais que ignorar, desprezar o clube que carrega seu nome, seu brasão e suas cores. A mudança dos ventos políticos trouxe outras consequências, como o desmantelamento da infraestrutura esportiva e cultural do município, incluindo o histórico Cine Teatro Carlos Gomes e o Estádio Bruno Daniel, parcialmente demolidos e desfigurados a ponto de não mais poderem receber eventos com a presença de público.
E o que nos aponta o futuro? Por mais que busquemos alimentar o otimismo, as condições reinantes no futebol brasileiro e mundial não são favoráveis ao tão desejado reerguimento do Ramalhão. Num cenário de concentração cada vez maior de recursos e atenções em algumas poucas equipes, há pouco espaço para o crescimento de uma equipe de médio escalão. Também a centralização de poderes nas mãos do polêmico proprietário da SAGED é apontada por muitos como uma das maiores, se não a maior, dificuldade para a afirmação do time, ainda que tal convicção não pareça ser confirmada pela realidade que se apresenta no futebol internacional; por exemplo, na Liga inglesa praticamente todas as equipes já estão sob controle de grupos econômicos ou de grandes magnatas estrangeiros, alguns de reputação tida por duvidosa, o que guardadas as devidas proporções também acontece por aqui.
Acredito que as dificuldades encontradas na gestão, dita empresarial, do futebol ramalhino não decorrem apenas de inaptidão, ignorância do negócio ou visão equivocada do dirigente que hoje toca o empreendimento, mas também dos obstáculos estruturais de difícil transposição referidos nos parágrafos anteriores. Superar tais obstáculos não dependerá apenas da sorte ou de uma ainda não observada eficiência gerencial, mas do chamamento de todas as partes – Poder Público, empresariado, dirigentes e conselheiros da área recreativa do clube e torcedores – para um grande acordo que restaure a importância do Ramalhão para a cidade. Se não for assim, a faca continuará cega.
Ao torcedor, neste momento, restam a saudade das conquistas passadas e a esperança que uma equipe modesta e montada para a Série C com severas restrições orçamentárias consiga contrariar a lógica, agigantar-se, alcançar resultados expressivos em campo, subir para a Série B e recolocar o Ramalhão no caminho das grandes conquistas que sempre foram a sua característica.