OBSERVAÇÃO: devido a uma migração de servidores, as colunas postadas neste espaço após 2012 acabaram se perdendo. Tentarei aos poucos recompor parte desse material, a partir de meus arquivos, começando pela coluna abaixo, originalmente postada em 23 de janeiro de 2013.
Logo mais o E. C. Santo André dá início à temporada 2013 diante do centenário Velo Clube, no que restou do outrora imponente Estádio Bruno Daniel. Para o sofrido torcedor ramalhino, não é uma temporada qualquer que se inicia, mas aquela que – esperamos – irá marcar o renascimento e redenção da equipe após os seguidos fracassos da chamada “gestão empresarial”. Pela primeira vez em anos, há a esperança fundamentada de que o Ramalhão voltará a disputar títulos e não apenas lutar contra o descenso.
Este colunista partilha dessa esperança, porém mais uma vez tenho que cumprir a desagradável missão de jogar água na fervura. Vamos devagar com o andor! Não nos esqueçamos da velha história do “bode na sala”, que se encaixa como uma luva no momento atual do Ramalhão. Não é porque os caprinos SAGED e Administração Aidan foram removido da sala andreense que a situação agora é de completo nirvana. Apenas voltamos à condição pré-gestão profissional; na verdade, nem isso.
Lembremo-nos de como andava a situação do ECSA antes que o então presidente Jairo Livólis apresentasse a ideia, aparentemente brilhante, de terceirizar a gestão do futebol profissional para uma empresa-fundo constituída especialmente para esse fim. A verdade é que a condição do Ramalhão naquele momento não era nenhum mar de rosas: a equipe disputava a Série B do Brasileiro com grandes dificuldades para manter-se nela; a equipe não tinha – e ainda não tem – um Centro de Treinamentos; mídia esportiva era coisa inexistente na região;a indiferença da cidade pelo time acentuava-se, e a presença de público nos jogos da equipe estacionava em irrisórios 1.200 pagantes – os chamados ramalhinos de fé; e nem a “surpreendente” conquista da Copa do Brasil em 2004 e a subsequente participação na Copa Libertadores foram suficientes para mudar o quadro. Para ajudar a reavivar a memória, sugiro ao prezado ramalhino uma releitura da entrevista concedida aos Ramalhonautas pelo Jairo Livólis, disponível neste sítio.
Se a simples remoção do “bode” já devolvesse o Ramalhão exatamente à situação inicial, as dificuldades para o reerguimento do time já seriam grandes, mas a coisa na realidade é bem pior. Para começar, o Santo André agora está na Série A-2 do futebol paulista e no último degrau no nível nacional – a Série D, cuja participação é restrita às equipes que se destacarem nos respectivos Estaduais e às que caíram da Série C no ano anterior, caso do Ramalhão. O que significa que, se o time não conseguir o retorno imediato ao terceiro nível, não participará mais da quarta divisão nacional a partir de 2014, sendo condenado a ser um time de meia temporada ou participar da de$intere$$ante Copa Paulista.
Além disso, o Grande ABC sofre um rápido processo de empobrecimento, que não era tão sensível há 5 ou 6 anos mas já estava presente. Hoje poderá ser bem mais complicado movimentar os capitais e obter os patrocínios necessários à manutenção de uma equipe de futebol de nível competitivo. Há quem considere que uma região como o ABC não terá mais condições de manter 3 equipes profissionais disputando campeonatos de ponta. Na verdade, o processo é geral: cidades ou regiões que antes bancavam 3 equipes agora só conseguem manter duas em evidência (Recife e Curitiba, por exemplo). Se isso acontecer, o Ramalhão neste momento é o maior candidato a ser o “Santa Cruz” ou o “Paraná Clube” do ABC.
Como se não bastassem todas essas dificuldades, não temos mais um estádio em boas condições de conforto e segurança. É bem verdade que antes o Bruno Daniel já não era uma maravilha, e a falta de manutenção adequada ao longo de décadas já se fazia sentir, mas ainda era a nossa casa. Hoje, não temos mais lugares cobertos nem possibilidade de realizar partidas noturnas. Embora a recuperação do estádio municipal seja promessa de campanha e prioridade da nova gestão do município, não devemos nos iludir, pois a condição de ruína é tal que o Bruno Daniel terá que ser, na prática, reconstruído, num processo caro e demorado.
Mas nem tudo são espinhos. Além do já mencionado apoio da Administração municipal, cujos efeitos devem fazer-se sentir muito rapidamente, o afastamento dos antigos gestores e a mudança de filosofia do futebol profissional da cidade poderá atrair novos colaboradores e abrir portas que antes mantinham-se fechadas para o Ramalhão.
Neste momento de indefinições, prevejo um período de readaptação razoavelmente longo (de 1 a 2 anos) até que o Ramalhão consiga livrar-se de todos os resquícios da desastrosa gestão de Ronan Maria Pinto e recuperar sua importância para a cidade. Até lá não espero por resultados muito expressivos em campo, mas o mais importante agora é que a equipe consiga mudar o perfil das últimas competições e deixe de apenas brigar para fugir do rebaixamento. Se conseguir avançar de fase e lutar pelo acesso, tanto melhor; mas essa mudança de padrão será fundamental para o futuro do Ramalhão. Logo, a responsabilidade desse grupo que agora inicia sua participação na A-2 é imensa. Boa sorte, pessoal, e façam o seu melhor.