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4/25/2016 - 16:54:49

Ramalhão, Clube Formador. Só que não

Carlos Silva

OBSERVAÇÃO: Coluna publicada originalmente em 01/07/2015

Encerrada a participação do Santo André na Série A-2 2015 com um decepcionante 9º lugar, longe do que se esperava do campeão da Copa Paulista, o Presidente do clube Jairo Livólis concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Anderson Fattori, publicada no Diário do Grande ABC. Em tom de desabafo, o dirigente lamentou os maus resultados e acenou com a possibilidade de o Ramalhão não participar da Copa Paulista. Leiam a íntegra da entrevista neste link. http://www.dgabc.com.br/Noticia/1338950/decepcionado-dirigente-planeja-mudanca-profunda

Não vou alongar-me em comentar o teor da entrevista, ainda que o desapontamento do Presidente seja justificável; afinal, aparentemente foi feito tudo certo. Manteve-se a comissão técnica vitoriosa do semestre anterior e a maior parte do elenco, com o retorno de jogadores experientes que estavam emprestados, o Bruno Daniel pôde ser usado desde o início (embora ainda em obras, cujo término parece desafiar qualquer previsão); enfim, havia motivos para a expectativa de uma grande campanha que no final, por uma série de fatores, não veio.

Como não poderia deixar de ser, a entrevista repercutiu fortemente nas redes sociais. As reclamações dos torcedores contra o posicionamento de Livólis, em especial no que se refere ao programa de fidelidade (sócio torcedor), foram inúmeras e contundentes. (E neste ponto acrescentarei meu único comentário sobre a entrevista. Entendo que o que faz um verdadeiro torcedor não é um cartão ou um título de sócio, muito menos a frequência com que vai ao estádio; e sim, a identificação emocional com o time. É um erro imenso criticar o torcedor por reclamar e protestar quanto o time não está bem: essa é justamente a função do torcedor! Como já escrevi algumas vezes, o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença; ou seja, se o ramalhino reclama da má qualidade do espetáculo é porque deseja que ele melhore. O verdadeiro ramalhino “vai a campo, sorri, chora e grita”, e não se obriga a ser “sócio torcedor” para isso. Fim do comentário.)

Mas, dentre as manifestações dos torcedores no “Caralivro”(hehe), algo me chamou a atenção. Alguns reclamavam por informações sobre a venda do jogador Ricardo Goulart para o futebol chinês e queriam saber “o que foi feito com o dinheiro”. Acredito que se trate apenas de desinformação. Por isso é preciso deixar bem claro que o Santo André não tinha qualquer direito a receber na transação, e isso por uma razão muito simples: o ECSA não é um clube formador.

Mas o que é, afinal, um clube formador? A resposta está na Resolução RDP nº 01/2012 da CBF, que instituiu a Certificação de Clube Formador (CCF), tendo por objetivo justamente assegurar os direitos dos clubes sobre os atletas que revelarem em suas categorias de base. Para a concessão do referido certificado há uma série de requisitos mínimos a serem atendidos pelo clube postulante. Ou melhor, “mínimos” é forma de dizer, pois os requisitos são bem rigorosos, e mesmo que os atenda o clube receberá apenas um certificado classe “B”, válido por um ano. Para receber a certificação “A”, com dois anos de validade, o clube terá que ir além do mínimo.

O anexo II da RDP, que estabelece os tais requisitos, é bem extenso e recomendo fortemente sua leitura na íntegra. Resumidamente, o que se exige do clube candidato ao CCF é que possua pessoal qualificado, programa de treinamento detalhado, que ofereça assistência médica, educacional e psicológica aos atletas diretamente ou mediante convênio, além de alojamento, alimentação, transporte, material completo, seguro de acidentes pessoais, pagamento de bolsas e outros benefícios.

Como se vê, é uma estrutura dispendiosa, mas necessária, em troca da qual o clube terá as prerrogativas asseguradas em lei sobre os jogadores que revelar. Entre elas, o recebimento das remunerações de solidariedade, a prerrogativa de assinar o primeiro contrato profissional do jogador aos 16 anos e garantia contra aliciamento de seus garotos que ainda não tenham assinado o primeiro contrato, prática infelizmente comum no “mercado”.

Diga-se que poucos clubes paulistas já conseguiram o CCF “A”, entre eles os quatro “grandes”, o Desportivo Brasil (Traffic) e o Osasco Audax. A relação está disponível no sítio da FPF. No momento em que o Santo André, nas palavras de seu Presidente, busca incrementar a formação de jogadores na base, seria fundamental tentar obter ao menos a certificação “B”. Do contrário, o clube só terá algum ganho se vender rapidamente suas revelações, e o investimento será perdido em parte e não alcançará todo o seu potencial de produzir resultados, tanto financeiros como dentro das quatro linhas.







 

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